Uma equipa de cientistas franceses descobriu um novo uso
para a pílula contraceptiva, também conhecida pela designação RU 486, que, de
acordo com os investigadores, poderá ser aplicada no ramo da psiquiatria, na
luta contra a depressão. Além das suas propriedades antiprogesterona, os cientistas
da Universidade de Stanford (Califórnia) e o "pai" da pílula, o professor
francês Etienne-Emile Baulieu, explicam na revista americana "Biological
Psychiatry" que a RU 486 tem também um efeito anti-cortisona (o corticóide
natural produzido pelo ser humano).
Esta propriedade poderá permitir evitar os "surtos" que levam ao suicídio
de indivíduos que sofrem desta grave forma de depressão, mesmo quando estão
a ser tratados com antidepressivos. O papel da cortisona durante as depressões
é estudado há 20 anos, mas apesar de as equipas francesas e americanas insistirem
neste aspecto pouco conhecido da patologia cerebral nenhuma pesquisa permitiu
até agora chegar a conclusões terapêuticas.
Segundo o cientista francês, "um tratamento adicional com RU 486 durante
uma semana é suficiente para afastar o perigo, permitindo ao paciente voltar
ao estado anterior controlado pelos medicamentos habituais". Estas observações,
ainda preliminares, tomaram como base um grupo de 30 pacientes, homens e mulheres
entre os 25 e os 74 anos, com uma dose de RU 486 superior ou igual à utilizada
para interromper a gravidez.
"Apesar disso, estes resultados não devem ser extrapolados no tratamento
das depressões de reacção nem nas depressões comuns, observadas na doença maníaco-depressiva",
alerta Baulieu.
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