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?Há-de haver um sítio onde haja um lugar, nem que tenhamos de andar às voltas??

Se por força do muito mudar, Portugal fosse como a Espanha, as preocupações de Bruno Santos quanto ao seu futuro seriam menores. Pelo menos é nisto que o estudante do 4º ano de História da Faculdade de Letras do Porto acredita. Mas como está em Portugal, Bruno sabe que dificilmente conseguirá um emprego no ensino e que a investigação na sua área  quase não existe. Cono não existem institutos públicos de história.

Como vê o seu futuro quando terminar o curso?
Com um misto de ansiedade e preocupação. Apesar de termos recursos históricos, não temos um país que permita aos alunos formados na via científica de História terem muito onde se empregar. Estes licenciados nem sequer têm estágio de um ano no final do curso como os da via de ensino. Por isso, normalmente seguem  para os cursos de pós-graduação ou mestrado? No caso dos alunos que seguem a vertente pedagógica, depois do ano de estágio, as coisas tornam-se um pouco negras? Mas eu costumo dizer aos meus amigos que arranjar emprego é como estacionar o carro no parque de um shopping: há-de haver um sítio onde haja um lugar, nem que tenhamos de andar às voltas?

Quando referiu a falta de apoio à investigação histórica vê-a numa perspectiva económica ou política?
Em todos os aspectos. Dou-lhe o exemplo de Espanha. Há um professor desta casa [Faculdade de Letras do Porto] que está a dar aulas na Faculdade de Letras da Universidade de Sevilha e diz que o Estado espanhol incentiva campanhas de conservação e restauro dos monumentos nacionais, mas não contrata empresas, são os próprios alunos de História de Arte que vão fazer o restauro. As investigações realizadas são feitas pelos institutos de história que envolvem as pessoas das faculdades do país. E todos são remunerados pelo Estado! Nós somos um país muito mais pobre que a Espanha mas gasta-se dinheiro tão mal gasto em Portugal? O Estado não nos cria alternativas de emprego mas tem de nos pagar o subsídio de desemprego, logo, perdem dinheiro na mesma. Então porque não rentabilizar a mão-de-obra universitária? O ministro diz que o Ministério da Educação não é nenhuma agência de emprego,  mas cabe-lhe estar no sítio certo para nos arranjar as alternativas. E nenhum licenciado vai estar sentado em casa à espera que o emprego lhe caia no colo, mas é necessária uma reforma bastante profunda?

Há pouco falava dos institutos de história espanhóis, o que pensa da extinção de todos estes institutos públicos portugueses?
As medidas que o governo tem tomado ultimamente em relação à redução dos institutos públicos e da própria despesa pública tem a ver com um passado recente de um gastar desmedido do próprio Estado em coisas completamente estapafúrdias. Os cortes que têm sido feitos têm necessariamente de ser feitos, a questão que coloco é: Será que os cortes estão a ser feitos da melhor maneira? Os milhões de euros gastos no europeu de futebol não seriam melhor gastos em institutos públicos, privados ou semi-privados com participações estatais? Em Espanha quase todos os institutos têm uma vertente privada com uma participação estatal que acaba por reduzir as despesas poupando-se dinheiro e criando emprego. Acredito que muitos dos políticos que agora estão no governo tivessem ideias parecidas com as minhas mas, depois chegam lá e as pressões com que lidam podem impedí-los de fazer o que realmente querem?

Mas as universidades podiam ser mais interventivas no sentido de pressionar as instâncias políticas para a ?empregabilidade? dos recém-licenciados?
A universidade está separada de quem realmente tem o poder executivo. Não é só uma questão de nos querer dar emprego, mas de querer tornar a nossa mão-de-obra útil para o Estado.


  
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Edição:

N.º 117
Ano 11, Novembro 2002

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Bruno Santos

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Bruno Santos

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