Ocupar o tempo livre das crianças e dos jovens pode por vezes
ser um autêntico desafio para os pais. Apesar de haver inúmeras actividades
interessantes à disposição, na altura de escolher pesam sempre factores como
o horário e a qualidade e custo da oferta. A Fundação de Serralves oferece uma
boa oferta.
Criatividade à solta em Serralves
São dez horas de uma solarenga manhã de sábado. No interior
do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Serralves, no Porto, ultimam-se os preparativos
para abrir as portas aos visitantes. Aos poucos, vêem-se pais a chegar de mão
dada com os filhos. Os miúdos parecem entusiasmados. Também não é para menos:
nas duas horas seguintes vão poder dar largas à imaginação e entreter-se à volta
das tintas e dos pincéis, participando no Espaço de Prática Criativa, uma das
muitas oficinas que ali decorrem ao longo do ano.
Na sala do Serviço Educativo do MAC, sentadas em redor de uma grande mesa comum,
as crianças aguardam que lhes seja distribuído o material de trabalho. São treze
miúdos, com idades compreendidas entre os seis e os doze anos, o limite etário
para participar nesta actividade. Da última vez que ocuparam aqueles lugares,
ainda na semana anterior, dedicaram a manhã a desenhar os contornos das mãos
e dos braços e a pintá-los com as suas cores preferidas. Hoje é a vez de recortá-los
e sobrepô-los numa folha de papel de maneira a formar uma máscara.
O que se pretende nesta primeira fase do trabalho, explica a orientadora, é
partir à descoberta das formas e das cores através da utilização multifacetada
das mãos. "Vamos explorar tudo o que tiver a ver com as mãos, desde as
suas formas simples até às possíveis transformações que elas podem adquirir,
passando por uma dimensão táctil através da qual iremos representar objectos
que nãopodem ser vistos, apenas tocados", diz ...........
A partir daí far-se-á uma transição para o retrato do parceiro, continuando
a recorrer apenas ao tacto. De olhos vendados, os miúdos irão ser desafiados
a desenhar o parceiro recorrendo apenas ao sentido táctil. Depois, numa segunda
fase, passamos à fase da identificação, através do retrato visualizado do parceiro,
que culminará na execução de uma máscara para o Carnaval.
Com o trabalho da face começa-se a trabalhar o grande e o pequeno, já que a
partir de um retrato à escala normal passa-se a trabalhar a proporção projectando
as linhas na parede. o escondido e o visível - como será o retrato no interior.
A partir daí vai-se trabalhando a identificação e a relação com o corpo, o grande
e o pequeno, ou seja, as proporções do corpo.
A terceira parte é integrado no projecto bi-anual de Serralves - cujo tema é
viagens - e vão perceber qual a sua relação deles com o espaço e com os percursos.
Tudo vai a ter a ver com o espaço exterior. Uma árvore
À medida que vão pintando, os miúdos conversam sobre a vida na escola, segredam
os seus namoricos ou trocam impressões sobre o trabalho que estão a realizar.
É curioso verificar como utilizam de forma diferente as cores à sua disposição:
enquanto alguns têm uma tendência monocromática, limitando-se a usar duas ou
três cores mais fortes - ou mesmo apenas uma, como é o caso do Tiago, que escolheu
o azul porque é do "Porto" - outros, especialmente as raparigas, preferem
dar largas à criatividade e misturam cores para criarem novos tons. Como a Catarina,
de sete anos, que mistura branco e vermelho para fazer tinta "iogurte de
morango" - uma tradução deliciosamente infantil para cor de rosa.
"Não estou interessada em desenvolver potenciais "artistas",
refere ........ Interessa-me sobretudo que eles se tornem pessoas criativas
e interessantes. A ideia desta oficina é precisamente a de criar um espaço de
criatividade. O ano passado um pai disse-me que gostava que a filha viesse a
tornar-se artista, e eu respondia-lhe que gostaria que estes meninos fossem
políticos. Porque de certeza que iríamos ser governados por pessoas muito mais
interessantes...".Não estou nada preocupada com o potencial, porque
Para os pais, esta é uma forma de proporcionar aos filhos uma oportunidade de
fazer algo diferente e conseguir um bocadinho de tempo para si próprios. Raquel
Pereira, professora do ensino secundário, por exemplo, afirma que esta é uma
excelente forma de o seu filho se descontrair e de "tomar contacto com
outras formas de estar".
Ela revela jeito para desenhar, na escola não há muitas vezes espaço para potenciar
essas capacidades e quando soube deste serviço, que faz um trabalho interessante
porque além de os estimular tecnicamente mostra-lhes as exposições de serralves
e o acesso a arte contemporânea que a escola não dá. João Anacoreta, advogado
Serviço Educativo de Serralves
O Serviço Educativo da Fundação de Serralves desenvolve, desde
1989, um projecto cultural de vocação nacional e internacional nos domínios
da arte, do ambiente e da paisagem, tentando criar uma relação estreita com
a comunidade de forma a estimular o interesse pela criação artística contemporânea.
Este serviço organiza um conjunto de programas destinados a crianças, jovens
e adultos de forma a proporcionar-lhes o contacto com a natureza e a paisagem
e com as obras de arte.
Desta forma, pretende-se sensibilizar os mais novos para a contemporaneidade
cultural, artística e ambiental, facilitar a descoberta e a apreciação das obras
expostas nas exposições temporárias, da colecção permanente e dos espaços do
parque, desenvolvendo a capacidade de observação e análise, através das actividades
de educação estética e ambiental, contribuindo, ao mesmo tempo, para a formação
de públicos.
O Serviço Educativo recebe grupos de alunos e professores mediante uma marcação
prévia, com o acompanhamento de monitores especializados que orientam a visita
de acordo com a idade e o nível de escolaridade dos visitantes. O serviço funciona
de terça-feira a Domingo.
No início de cada ano lectivo é realizado um encontro dirigido especificamente
aos professores, educadores e outros formadores para apresentação do plano de
actividades anual do Serviço Educativo, de forma a possibilitar uma calendarização
atempada para a planificação das suas deslocações. No entanto, realizam-se semanalmente
visitas a grupos de professores e outros formadores, onde são fornecidas informações
e sugestões para a preparação de futuras deslocações. O Serviço Educativo convida
ainda os professores a conceber e desenvolver com os seus alunos projectos multidisciplinares,
tendo como tema Serralves
Também na tradição dos projectos "espantalhos-Arte Efémera da Paisagem",
"Arquitectos do Parque" e "Vento e Movimento", realizados
com as escolas em anos anteriores, decorre actualmente o projecto "Meu
Lugar, Minha Cidade-Habitares Serralves". Este projecto pretende contribuir
para o reconhecimento e salvaguarda do património urbano e ambiental de públicos
de diferentes idades e sensibilizar o cidadão mais jovem para o sentido de pertença
social, de responsabilidade cívica e o interesse pelo conhecimento do lugar
onde habita.
Mas Serralves não se resume ao museu e aos seus serviços. O seu parque de 18
hectares é digno de ser visto e ser sentido. O parque foi planeado e construído
nos princípios do modernismo da arquitectura paisagista mas incorpore muitos
princípios estéticos anteriores a este período. A sua diversidade paisagística.
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