Há muita gente que só consegue tratar de um problema de
cada vez. Ou melhor, quando têm um problema pela frente ficam aflitas, obsecadas
pelo problema, vivem dele e para ele. A nossa ministra das finanças e o nosso
primeiro ministro são assim. Encalharam no caso do déficit e estão obsecados
por ele. Têem a ambição de conseguir que o número da receita seja igual ao da
despesa. Perderam o siso. Não vêem mais nada. Obsecados pelo seu problema dizem
que só há um caminho para o resolver. E vai de proposta, insulto e gritaria.
Esquecem aquele antigo ditado que diz que todos os caminhos vão dar a Roma.
Quem não se deixa absorver por um único problema percebe que os caminhos para
o resolver são muitos e variados. Quanto mais largo o horizonte, mais variadas
as soluções.
Há muitos anos havia um pastor que sempre tinha vivido confinado na sua aldeia.
Esta ficava num vale rodeado de montes. O pastor era-o desde menino mas estava
a ficar velho. Um dia uma das ovelhas escapou-se e foi subindo um dos montes.
O velho pastor foi-lhe no encalço. A ovelha à frente e o velho atrás subiram
o monte até ao cimo. Chegados lá, enquanto a ovelha se entretinha a tasquinhar
umas ervas, o velho pastor estendeu a vista lá do alto e, perante tão vasto
horizonte, caíu de joelhos, abriu os braços e exclamou em vóz alta: ? que Deus
nos acuda! Óh meu Deus que eu não sabia que o mundo é tão grande!
Pode ser que um dia alguma ovelha do Governo se meta a subir o monte. Talvez
a senhora ministra das finanças e o senhor primeiro ministro se decidam a ir-lhe
no encalço. Pode ser que juntos descubram que o mundo é grande e que há muita
coisa para lá do déficit. Pode ser que descubram que a maioria esmagadora do
povo português é pobre, trabalha, vive sem privilégios e anda aflito. Pode ser
que Deus os ilumine e os ajude a descobrir que o povo tem o direito de trabalhar
para viver e não de viver para trabalhar. Pode ser que todos os santos os ajudem
a perceber que a História foi estabelecendo a diferença entre trabalho livre
e trabalho escravo. Talvez percebam que a economia deve estar ao serviço das
pessoas e não as pessoas ao serviço do lucro. Pode ser que no horizonte descubram
que a obrigação de qualquer governo decente é governar para o bem estar do povo
e com o povo e não para o aumento do lucro e da ganância de meia dúzia de proprietários
e financeiros sempre esfomeados e esganados por dinheiro.
Pode ser que descobrindo estes novos horizontes o Governo, todo ele, caia de
joelhos e exclame em vóz alta: ? que Deus nos acuda! Que nós não sabiamos que
a vida pode ser tão variada, tão digna, tão decente e tão simples.
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