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Projectos sem fim

Tenho sempre a sensação de que o ano tem 3 princípios: Janeiro, porque o calendário assim o diz e tudo à nossa volta também, Março, porque é tempo de Primavera e a Natureza renasce e Setembro, porque regresso à escola e um novo ciclo começa. Isto tem a sua vantagem! Não preciso esperar pelo fim de Dezembro para (re)formular situações e desejos e quando penso «para o ano vai ser diferente», posso sempre optar pelo ano que mais jeito me dá: civil, sazonal ou lectivo.

Este ano (lectivo) começou mais pobre na minha escola. A Agência Nacional informou que o acarinhado Projecto Comenius, iniciado no ano anterior, iria cessar pela «não aprovação das AN?s dos países das instituições coordenadoras/parceiras, originando a queda de parceria». Para quem estiver menos familiarizado com esta terminologia simplificada, um Projecto Comenius é um intercâmbio entre escolas do 1º Ciclo (3 no mínimo) de diferentes países da Europa promovido pela Agência Nacional para os Programas Comunitários Sócrates e Leonardo de Vinci.
A breve experiência que tenho em projectos europeus faz-me sentir que estes intercâmbios são de grande valor pessoal e profissional. Da primeira vez, integrei um grupo de trabalho (7 professores de escolas do Alentejo e 7 da região de Grenoble) para promover o ensino precoce do francês em Portugal e do português em França (Projecto Língua). Eu e os meus alunos experimentámos, então, uma sensação diferente: trabalhar com pessoas de outro país e isso foi muito entusiasmante. Eles aprenderam palavras e expressões em francês, viveram realmente a tão falada dimensão europeia e gostaram bastante das 2 semanas de convivência com a professora Valérie; eu redescobri a vontade de saber mais e fazer melhor. O facto de este projecto (Sensibilização à Interculturalidade ? Português e Francês Precoce) ter ganho no ano 2000 o Selo Europeu para as Iniciativas Inovadoras na Área do Ensino / Aprendizagem das Línguas (iniciativa promovida pelo Instituto de Inovação Educacional) reforçou a ideia de que faz todo o sentido este tipo de trabalho.
No início (civil) de 2001 começava a segunda experiência: uma visita preparatória ao Reino Unido para estabelecer parcerias com outros países e encetar um projecto a desenvolver em 3 anos. França, Reino Unido, Grécia e Portugal, este era o meu grupo. Numa sala plena de gente vinda de todos os cantos da Europa, os testemunhos de práticas com maior ou menor êxito sucediam-se. Quase sem nos conhecermos, tínhamos uma tarefa a cumprir: pensámos, inventámos, planeámos, escrevemos, riscámos, apagámos e voltámos a escrever muitas vezes até conseguirmos o esqueleto de um plano de trabalho. O tema tinha sido sugerido no dia anterior pelos alunos ingleses. As propostas foram apresentadas nas nossas escolas, formalizaram-se as candidaturas até 1 de Março e em Setembro o projecto arrancava. Apesar da candidatura da escola grega não ter sido aceite pela sua Agência Nacional, os trabalhos que íamos fazendo contavam sempre com a Grécia, esperançados que no ano seguinte fossemos realmente 4. Afinal, tudo aconteceu ao contrário. Após o primeiro ano de variadas actividades, de reformulado o plano de trabalho para o segundo e do entusiasmo de muitos em trabalhar numa equipa europeia, não só a Grécia continuou de fora, como acabaram por sair a França e Portugal. Depois de tanto empenho não me parece justo este final antecipado. Aprendemos tanto uns com os outros! Não esqueço a admiração de um miúdo da minha escola quando, ao ver um vídeo enviado pelos franceses, disse «o recreio deles é tão limpinho!» ou um outro, de Sonning-Common, que não sabia haver escolas onde toca uma campainha para se entrar ou sair ou, ainda, uma turma de Les Clefs que gravou em áudio os professores estrangeiros a falarem nas suas línguas para depois todos ouvirem e aprenderem com a ajuda da professora. Enfim, um projecto sem fim que deixou marcas em muitos de nós, participantes, e em
http://www.minerva.uevora.pt/aprenderpt/degrau/degrau2/dg2html/comenius.html ;
este site, feito em português, é um dos produtos do Projecto Comenius.
Sem Comenius, (pres)sinto um ano mais intensamente dedicado a projectos sem fim para lembrar e trabalhar dentro das 4 paredes do país. Dia Disto, Dia Daquilo não esquecendo os Feriados Nacionais e Locais e mais Todos os Outros Dias que Importa Não Esquecer. Não! Não estou nada contra os dias comemorativos; eles fazem falta, pois ainda só assim se lembram alguns temas de interesse. Além disso, muitos projectos, vindos das mais variadas instituições, baterão às portas das escolas; haja critérios bem definidos para que se opte pelo(s) melhor(es). Mas quem se habitua a saltar fronteiras sente algum empobrecimento, sente que há uma dimensão que falta; é literalmente a dimensão europeia.
Talvez para o ano!?


  
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Edição:

N.º 117
Ano 11, Novembro 2002

Autoria:

Betina Astride
Agrupamento Vertical de Montemor-o-Novo
Betina Astride
Agrupamento Vertical de Montemor-o-Novo

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