Afinal a acreditação da formação de professores continua
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O actual Governo vai dar continuidade ao sistema adoptado pelo anterior para
o reconhecimento das habilitações para a docência. É de lamentar que, com este
ziguezaguear, o Governo tenha desperdiçado investimentos feitos e fragilizado
a progressiva adesão das instituições de formação ao referido sistema.
- Afinal, o actual Governo vai dar continuidade ao sistema adoptado pelo
anterior para o reconhecimento das habilitações para a docência, ou seja,
o da acreditação da formação inicial de professores. O que, em princípio,
me parece um recuo acertado. Verifica-se, assim, que este era um dossier
que não tinha sido bem estudado pelo Governo. Tal como procurei evidenciar
quando extinguiu o Instituto de Acreditação e cancelou a apreciação das candidaturas
em curso. É de lamentar que, com este ziguezaguear, o Governo tenha desperdiçado
investimentos feitos e fragilizado a progressiva adesão das instituições de
formação ao referido sistema, para além de desvalorizar o investimento feito
por aquelas que já tinham apresentado candidatura para acreditação dos seus
cursos, cuja apreciação havia sido iniciada. Ainda bem que não tardou a corrigir
a trajectória. Resta esperar que, no entretanto, o sistema de acreditação
não perca nenhuma das suas características indispensáveis para ser considerado
como tal a nível internacional.
- De facto, com a nova Lei Orgânica do Ministério da Educação, a Direcção-Geral
da Administração Educativa transforma-se na Direcção-Geral dos Recursos Humanos
da Educação e retoma as atribuições do Instituto de Acreditação. Deste modo,
passa a ser missão desta Direcção-Geral desenvolver o sistema da acreditação
dos cursos de formação inicial de professores. O importante, neste momento,
é salientar o regresso do processo de acreditação. Um juízo sobre a adequação
do novo organismo responsável pelo seu desenvolvimento às características
específicas deste processo, entre as quais é de salientar a independência
política e a natureza profissional do juízo de acreditação, só poderá ser
feito quando a respectiva orgânica for conhecida em pormenor.
- Se fosse intenção inicial do Governo manter a acreditação no Ministério
da Educação, transferindo-a apenas para a responsabilidade de um outro organismo
com um leque mais largo de competências relativas ao pessoal docente e não
docente das escolas, não teria tomado duas medidas, a meu ver, incompreensíveis
neste contexto. A primeira foi a de, antes de o extinguir, ter feito transitar
o Instituto de Acreditação para o Ministério do Ensino Superior, quando, de
facto, a acreditação profissional dos cursos de formação de professores é
matéria da competência do Ministério da Educação, como o Governo agora reconhece.
A segunda medida foi a de ter cancelado o processo em curso de apreciação
das candidaturas à acreditação (de 66 dos cerca de 330 cursos de licenciatura
para formação de professores), em vez de lhe ter dado continuidade, e de o
fazer transitar para a responsabilidade do novo organismo, logo que possível.
- A intenção inicial do Governo de abandonar o sistema de acreditação deve
estar relacionada com a posição do Ministro da Educação, em entrevista ao
Diário de Notícias, de 22 de Abril, onde declarava: ?O modelo de
vinculação de professores tem de mudar, não há outra hipótese. Se queremos
ter os melhores professores, isso tem de acontecer. Até porque o nível de
qualidade dos cursos do ensino superior que formam docentes é muito diferente.
Como ministro da Educação não vou fazer nada no ensino superior, portanto
acho que deve haver uma avaliação destes candidatos? (sublinhado meu). Entretanto,
o Senhor Ministro da Educação concluiu, e bem, em minha opinião, que seria
de fazer algo no ensino superior, pelo que foi repescar o sistema de acreditação
dos cursos que formam docentes.
- Assinale-se que é preferível que o sistema de acreditação se desenvolva
por decisão expressa do Governo, depois de o ter considerado desnecessário,
do que seja tolerado por mera inércia de continuidade. Fica assim claro que
a acreditação da formação inicial de professores também faz parte do programa
político deste Governo. Dir-se-ia que lhe mereceram reflexão as preocupações
relativas à extinção da acreditação manifestadas por associações de estudantes
das instituições de formação de professores, por associações de professores
dos ensinos básico e secundário e pela FENPROF.
- Os que foram para férias satisfeitos e descansados porque tinham conseguido
acabar com a acreditação lá terão de voltar ao trabalho. Talvez o seu objectivo
seja agora o de conseguir que a acreditação da formação inicial de professores
passe a ser uma mera formalidade burocrática, como já acontece com outras.
Ou como sempre aconteceu, mesmo muito recentemente, com o processo de reconhecimento
de habilitações próprias para a docência. Se tal acontecer, a sociedade não
terá garantias de que os professores estão preparados para responder às exigências
do desempenho docente.
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Ficha do Artigo
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Edição:
Ano 11, Novembro 2002
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Autoria:
Univ. do Porto; Presidente do Instituto Nacional de Acreditação da Formação de Professores (INAFOP)
Univ. do Porto; Presidente do Instituto Nacional de Acreditação da Formação de Professores (INAFOP)
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