Uma vez mais, com todo o empenhamento cultural pela sua terra
natal, Arsénio Mota volta a dedicar-se entusiasticamente ao inventário ou levantamento
biográfico das figuras das artes e das letras na Bairrada, ainda na lembrança
das terras gandaresas de tantas histórias, entre o litoral de Mira ou Vagos
até Aveiro ou das terras da Bairrada pelas quais sempre as pessoas se perdem
ao cheiro de um bom naco de leitão regado com Souselas branco.
Jornalista já na reforma e escritor radicado no Porto há muitos anos, Arsénio
Mota tem publicado regularmente os seus livros em domínios literários que o
não afirmam como um "escritor de carreira", ou seja, a sua produção revela-se
diversificada, mas é talvez na prosa de ficção e na área da literatura infanto-juvenil
que o seu nome se impõe pela singularidade de uma obra literária que espera
ser melhor reconhecida.
Assim, como quem mergulha no seu "museu no sótão, no virar dos setenta anos
e depois de uma carreira jornalística e literária digna de registo, feita tantas
vezes com o propósito de quem nunca quis andar na crista da onda, Arsénio Mota
volta a surgir nos escaparates com este livro de leitura estimulante e um bom
apoio para quem quiser conhecer ou ter mais informação sobre quem mais se destacou,
no correr dos tempos, nas terras bairradinas. Por isso, são muitos os escritores,
poetas, pintores, escultores, arquitectos, músicos e jornalistas que aparecem
biografados com rigor através do registo dos passos primordiais da sua vida
e obra, sem haver neste propósito qualquer cunho de regionalismo. Trata-se de
um livro definido nos limites das suas intenções - confinar-se a uma região
que não é apenas conhecida no plano gastronómico ou popular -, que se ergue
como um primeiro e importante contributo pessoal para se saber "quem foi quem"
no domínio da cultura e da arte, da política e da vida social na áerea geográfica
da Bairrada, ou seja, entre Coimbra e Aveiro.
Desta forma, é surpreendente que no domínio das artes e das letras Arsénio Mota
nos possa revelar nomes e obras esquecidas (por exemplo, Joaquim Francisco Bingre
ou João Grave), nos dê pormenores biográficos de tantos e tantos nomes que hoje
jazem na sombra das bibliotecas, a par de gente importante que deu um grande
contributo na valorização da cultura portuguesa, perdidos por Lisboa, Porto
ou Coimbra, mas que nunca enjeitaram as suas próprias: Rodrigues Lapa, Emídio
Navarro, Luís de Albuquerque ou Jaime Cortesão, Mário Sacramento, Fernando Namora
ou Carlos de Oliveira, entre outros.
Mas este novo livro de Arsénio Mota afirma-se sobretudo como uma obra de consulta
obrigatória e preenche uma lacuna biográfica que é vulgar anotar-se nos chamados
"dicionários de autores", onde falha sempre a inclusão de vários nomes dos que
aqui se relembram nos passos e andanças das suas vidas e obras, por maior ou
menor que tenha sido a sua contribuição social e cultural. Mas é pena que o
autor de Inclinações Pontuais não tivesse levado mais longe o seu trabalho e
nos apresentasse biografias de autores ainda vivos e cuja vida e obra mereceria
aparecer inventariada e registada nestas páginas. De qualquer modo, eis um livro
de rigor e qualidade literária para o qual nos apraz chamar a atenção dos leitores.
Arsénio Mota
FIGURAS DAS LETRAS E ARTES NA BAIRRADA
Ed. Campo das Letras / Porto, 2001.
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