O direito de aprender!
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O direito de aprender!
Algumas Escolas se mostram como Espaço Aberto para "receber" as crianças com dificuldades
de aprendizagem. Todavia, não oferecem condições satisfatórias para o trabalho
dessas dificuldades, levando-se em consideração, que tais condições exigem tempo,
etapas didáticas e situações apropriadas para o "acolhimento" dessas especificidades.
A escola, no entanto, prefere na maioria das vezes, esperar que a criança possa
se adequar à forma tradicional de ensino, sem que haja alguma informação específica
ao professor acerca dessas dificuldades. Capacitar seu professor, tomando por
base os quatros pilares da educação: Aprender a conhecer... Aprender a fazer...
Aprender a conviver... e Aprender a ser... Modificar seus procedimentos em sala
de aula é uma medida urgente e necessária, haja vista que tais medidas atenderão
as necessidades de toda a turma. Vale aqui lembrar que a escola é para todos os
alunos e não apenas para os bem sucedidos! Receber a criança, sem as devidas mudanças,
significa contribuir para o seu insucesso escolar, com o agravamento de um quadro
de insatisfação e ansiedade, que por certo começará a existir, à medida que sua
aprendizagem se mostrar visivelmente desfasada em relação à aprendizagem das demais
crianças de sua sala de aula.
Temos que perceber que as crianças que apresentam, desde cedo, um quadro de "resistência
à aprendizagem" na sua vida académica, na verdade poderão ter por trás um quadro
de dificuldades que as impede de aprender, da mesma forma que os demais!!! E isso,
por si só, já é um importante indício a ser investigado. As dificuldades devem
ser interpretadas pelos educadores não como fracassos, mas como desafios a enfrentar.
Querendo ou não, as dificuldades de aprendizagem existem na vida de algumas crianças,
independentemente da vontade ou do esforço delas ou dos pais!!! E se existem não
podem ser ignoradas, tendo em vista os sérios transtornos que causam à criança
e a seus familiares. Precisamos lembrar que se a criança passa grande parte de
sua vida dentro na instituição "Escola". É justo que seja, no mínimo, um espaço
de prazer e não um campo de concentração!
Na maioria das vezes, o método convencional de aprendizagem não atende as necessidades
académicas da criança. Nesse momento, falta ao educador a informação específica
que o tornará capaz de diagnosticar uma situação problema. Tentar resolvê-lo supondo
ser preguiça, (lentidão) ou "simples" falta de atenção, estará certamente fazendo
essa criança perder sua primeira chance de ter suas dificuldades "assistidas e
trabalhadas" dentro do próprio sistema educacional, que é de onde se espera a
competÍncia para o diagnóstico precoce das dificuldades de aprendizagem.
Se o educador não tem a "competência" para identificar no seu espaço de sala de
aula as crianças que apresentam indícios de alguma dificuldade académica, significa
dizer que ele também não terá condições de avaliá-las, tendo em vista que a avaliação
é um processo contínuo e permanente do desenvolvimento das suas competências e
habilidades! O que nos leva a crer que o "desconhecimento de algumas dificuldades
de aprendizagem por parte do educador", de entre elas a Dislexia e os distúrbios
de leitura e escrita o induzirá, fatalmente, a uma avaliação falhada à medida
que o julga e ao mesmo tempo o condena apenas por seus erros, desconsiderando
tanto a sua realidade, quanto as possibilidades que levariam ao desenvolvimento
de seu potencial, na condição de Ser Que Aprende Diferente...Mas Aprende!
Se a aprendizagem não acontece nesse quadro, trata-se, pelo menos, de um duplo
fracasso: do aluno que falhou por não ter sido atendido em suas especificidades,
e do professor, que não conseguiu interpretar os constantes e repetitivos erros!!!
Não saber interpretá-los exigirá por parte do educador uma auto-avaliação, no
que se refere a ressignificação da noção de Erro. Saber interpretá-lo será um
grande passo que ajudará sensivelmente na aprendizagem de qualquer criança.
É importante que a escola elabore em sua proposta pedagógica uma forma de diagnosticar
os problemas existentes na aprendizagem, assim como um plano de ação de como atingir
esses objetivos.
Faz-se necessário a construção de práticas pedagógicas que levem em conta as necessidades
das crianças assim como suas possibilidades de aprendizagem, criando condições
e dando-lhes autonomia suficiente para que não só aprendam umas com as outras,
mas também com os próprios erros, sem medos ou preconceitos. Caso contrário, a
escola será um lugar indesejável e fatalmente logo a rejeitará, reprimindo seus
sentimentos e apresentando comportamentos que poderão explodir sob as formas mais
inexplicáveis.
A aprendizagem, no ensino tradicional, em relação à forma que o conteúdo é abordado,
ainda é a imposta e não *a mediada no espaço de sala de aula, o que sugere, algumas
vezes, um clima de tensão e de "violência", de certa forma para aprender, travando-se
indiretamente um "duelo" entre aquele que sabe e impõe e aquele que obedece e
se revolta.
Se ensinar é mais do que transmitir conteúdos, é poder gerir relações com o saber,
ou seja, segundo Perrenoud, "fazer a transcendência dos ensinamentos das salas
de aula para sua aplicação na vida", a realidade das nossas escolas está muito
aquém das competências sugeridas por Perrenoud.
É importante dizer que não aprendemos de qualquer um,
aprendemos daquele a quem "outorgamos"
a confiança e o direito de ensinar...
http://www.dislexiarecife.hpg.com.br
*(entendo como mediação a ação do professor entre o aluno
e o conteúdo, através de questionamentos que o levam à reflexão e apreensão
desse objeto de conhecimento.)
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Ficha do Artigo
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Edição:
Ano 11, Março 2002
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Autoria:
Pesquisadora das dificuldades de aprendizagem
Pesquisadora das dificuldades de aprendizagem
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