É lamentável perceber que a escola pública tem deixado de
ser o local de trabalho dos/as professores/as nos últimos anos. Mesmo chamando
a atenção de que se trata de uma realidade já conhecida dos/as professores/as,
porém pouco aprofundada quanto aos seus comprometimentos para o conjunto da
sociedade civil, Silva Júnior afirma que "o que o cotidiano de nossas escolas
públicas nos apresenta é a sua desfiguração como local de trabalho, uma vez
que seus trabalhadores frequentemente distribuem sua jornada de trabalho em
diferentes locais, reduzindo, consequentemente seu tempo de permanência diário
em cada local" (1985, p.17).
Acredito que a permanência do/a professor/a em seu local de trabalho poderia
contribuir para a possibilidade de implementação de um projeto político-pedagógico
da própria escola elaborado pelos/as próprios/as professores/as que lá trabalham.
No caso especificamente brasileiro o Estado e o seu aparato ideológico vem contribuindo
enormemente para a destruição da escola pública enquanto o local onde deveria
acontecer o trabalho do/a professor/a, seja através das suas políticas educacionais,
seja através da compressão dos salários e do aviltamento das condições de trabalho.
Para agravar ainda mais a situação da descaracterização da escola pública enquanto
local onde o/a professor/a executa o seu trabalho, soma-se o discurso extremamente
desonesto do estado brasileiro que os/as professores/as, sua formação e manutenção
tornaram-se um peso muito oneroso para o Estado e devem ser substituídos por
outro tipo de profissional, formado em menor tempo, que não dependa do salário
do magistério para viver e que não precise de um local de trabalho para desenvolver
o processo de ensino.
Aponto aqui a importância de se eleger a escola como um local social e contraditório
(Machado, 1989) onde a ação concreta dos sujeitos envolvidos é fundamental para
marcar a passagem definitiva da escola de um simples lugar onde pessoas se reúnem
para exercer atividades de ensino, trocar e vender mercadorias de procedência
duvidosa, falar da novela de ontem, ou acusar uma criança de incapaz ou um pai
de irresponsável, para um lugar onde esteja presente a vida do/a trabalhador/a,
a sua capacidade de conceber o seu trabalho sem a ingerência externa autoritária
do estado, a sua real autonomia para buscar desenvolver os conteúdos escolares
adequados para o bom desenvolvimento da criança segundo as suas reais capacidades,
enfim, resgatar a ideia da escola pública como um local onde o/a professor/a
cumpre a sua jornada de trabalho, como qualquer outro/a trabalhador/a, voltado
para os interesses da população e estímulo da sua cidadania.
Bibliografia Citada:
-
Machado, António Berto. Reflexões sobre a organização do processo de
trabalho na escola. Educação em Revista, nº 9, Belo Horizonte, jul. 1989,
p.27-31.
-
Silva Júnior, Celestino Alves A escola pública como local de trabalho.
3ª ed. São Paulo: Cortez, 1995.
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