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Expectativas sociais e competências docentes

São óbvias e elevadas as expectativas sociais em relação à qualidade do desempenho dos professores dos ensinos básico e secundário e educadores de infância (adiante referido como professores). São expectativas justificadas e legitimadas pela relevância da educação para cada cidadão e para a colectividade, pelo facto de constituir um direito universal que deve ser assegurado em igualdade de circunstâncias e porque toda a colectividade comparticipa na sua realização. Ou seja, a educação e os factores a ela associados diz respeito a todos. No essencial, é socialmente esperado que os professores tenham as competências necessárias para assegurarem aprendizagens de qualidade aos seus alunos. A montante, aquelas expectativas estendem-se também à formação dos professores, sugerindo algumas interrogações - Que formação tiveram os professores do meu filho? Qual a qualidade dos respectivos cursos?, etc. As respostas encontram-se na constatação - através, por exemplo, da acreditação dos respectivos cursos - de que essa formação é orientada por critérios de qualidade que garantem que os futuros professores adquirem as competências essenciais para iniciarem e continuarem, com exigências crescentes de qualidade, o seu desempenho profissional.

A atenção do cidadão comum em relação ao desempenho dos professores orienta-se, em primeiro lugar, para a qualidade dos resultados das aprendizagens dos seus alunos. Esta é a sua grande referência na apreciação da acção dos professores, mesmo sem necessidade de explicitação detalhadas das competências que deles são esperadas. Mas parece indispensável que sejam claramente explícitas - e referência constante - para quem tem a responsabilidade de as desenvolver, adquirir e aplicar: para as instituições de formação, para os formadores, para os formandos e para os próprios professores.

Para as instituições de formação, a explicitação das competências esperadas dos futuros professores é indispensável para a definição e concretização de critérios de qualidade que devem orientar e organizar a formação de modo a conduzir à aquisição daquelas competências e a um bom desempenho docente. Ou seja, as características do processo de formação devem ser potencialmente indutoras de uma formação para aquelas competências. A qualidade da formação (e da instituição de formação) é, por sua vez, comprovada pelo nível de realização daqueles critérios em que se inclui a qualidade do desempenho dos diplomados traduzida nas aprendizagens e no sucesso dos seus alunos. Por isso, os dados relativos a esse desempenho são de particular importância para verificar a qualidade da formação e a sua adequação aos desempenhos necessários face às exigências dos contextos reais. Daqui a necessidade da instituição verificar, com dispositivos próprios, os produtos da sua acção em contextos reais e, face aos dados obtidos, ir adequando a qualidade da formação às exigências dos desempenhos.

Enquanto elementos do corpo docente de um curso de formação inicial de professores, os formadores da instituição de formação organizam e desenvolvem a sua acção de modo coordenado, no contexto de um plano curricular, tendo como finalidade comum a promoção das competências necessárias para desempenhos de qualidade por parte dos futuros diplomados. Dito de outro modo, espera-se que os formadores tenham presente os modos como a sua acção se projecta no elenco de competências esperadas do futuro professor. Para isso é indispensável conhece-las.

A evidência das competências necessárias para o seu desempenho futuro, constitui uma referência orientadora ao longo do processo de formação dos formandos/alunos dos cursos de formação inicial. Em particular, ajuda a fazer as escolhas que melhor sustentem o desenvolvimento daquelas competências e a criar disposições para investimentos futuros na formação profissional ao longo da vida. A formação inicial é, apenas, a primeira etapa da formação profissional que, cada vez mais, é realizada ao longo da vida. A ênfase nesta ideia de formação passa para os professores em serviço o essencial da acção e da responsabilidade pela sua própria formação. E a referência para essa acção é a definição clara do conjunto articulado de competências que, em cada contexto e em cada etapa da sua vida profissional, é esperado que ele domine.

Aqui ocorre falar em perfil de desempenho docente, termo que não foi, neste texto, até agora, referido embora considerando a sua grande importância - para organização de cursos de formação, para orientar o processo de acreditação desses cursos, para o reconhecimento de habilitações profissionais docentes, etc. Importa explicar o porquê da incidência em competência e não em perfil. Os perfis são definidos por um conjunto de competências que integrada e articuladamente definem os desempenhos que, num certo contexto, são socialmente esperados dos professores. As competências docentes são cada vez mais definidas e aplicadas em contexto, no sentido em que as mudanças sociais, a crescente diversidade dos alunos e o imperativo de proporcionar mais e melhores oportunidades de aprendizagem a todos os alunos, exigem que, face a cada realidade escolar, os professores sejam capazes de tomar as decisões curriculares mais adequadas. No seu dia-a-dia, os professores demonstram, desenvolvem e aplicam competências. Os perfis são constituídos, enquanto conjuntos articulados e integrados, por competências assim entendidas. São descrições referenciais, de certa forma ideais, que orientam o desempenho dos professores num certo contexto social e num certo tempo. São, por isso, evolutivos no sentido em que têm de incluir novas competências em novas integrações ou reajustamentos em função das diferentes configurações dessa sociedade, das suas necessidades e dos desafios colocados para o seu desenvolvimento futuro.

É esta capacidade de flexibilizar a sua intervenção e reconfigurar o seu perfil através da contextualização das suas competências face à diversidade dos sujeitos e situações que é esperado do desempenho profissional do professor ao longo da vida. Sem perder de vista a totalidade do perfil desejável, é no exercício das suas competências em contexto que se realiza o seu desenvolvimento profissional e a qualidade da sua acção.


  
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Edição:

N.º 109
Ano 10, Fevereiro 2002

Autoria:

Carlos Cardoso
ESE de Lisboa
Carlos Cardoso
ESE de Lisboa

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