A maioria da população negra sul-africana está a recuperar
o atraso histórico em termos educativos herdado da época do apartheid, revela
um estudo elaborado pelo Instituto de Relações Raciais (SAIRR, independente),
que verifica um aumento de 173% do número de diplomados negros entre 1991 e
1998. No início da década de 90, os negros (cerca de 77% da população) representavam
apenas um quarto de todos os diplomados no ensino superior. Essa proporção aumentou
para os 50% desde 1998, nota o referido estudo.
Depois do fim do apartheid, os estudantes dos diferentes grupos
raciais começaram a afluir às universidades consideradas historicamente "brancas"
(reservadas à minoria branca do país), associadas a uma imagem de excelência.
As universidades historicamente "negras", pelo contrário, ficaram sem um terço
dos seus estudantes entre 1995 e 2000, segundo o SAIRR.
A repartição dos estudantes pós-apartheid por disciplinas
mostra que persistem desiquílíbrios, como é o caso dos cursos de vocação profissional
com quatro ou mais anos de frequência, como engenharia, arquitectura, medicina,
pesquisa social ou urbanismo, onde poucos estudantes negros se inscrevem. Por
cada diplomado negro na área do comércio ou da matemática, há dois diplomados
brancos. Nas ciências informáticas, essa proporção passa de um para três, e
de um para oito no domínio das ciências e tecnologias industriais. Por contraste,
há dez vezes mais negros nos cursos generalistas como línguas, literatura e
formações destinadas à administração e aos serviços sociais.
O governo tem tentado diminuir estes desiquilíbrios através
da fusão e de parcerias entre estabelecimentos de ensino superior ou melhorando
os resultados escolares em matemática e ciências, mas é certo "que estas insuficiências
estruturais vão subsistir mais algum tempo", adianta uma fonte do SAIRR.
Ao mesmo tempo, o ministério da Educação sul-africano publicou
recentemente os resultados dos exames finais do ensino secundário, pela primeira
vez com uma percentagem de resultados positivos superiores a 60%, uma subida
de 3,85 relativamente a 2000, encarado como um sinal de recuperação das diferenças
e desigualdades herdadas do apartheid. Entre 1995, logo após a introdução da
educação multirracial no país, as taxas de aproveitamento dos exames do secundário
não ultrapassava os 40%.
O ministro da educação, Kader Asmal, atribui este resultado
aos investimentos no equipamento e à melhoria das condições de trabalho de alunos
e professores, que pôs fim a um sistema de duas velocidades entre brancos e
negros. por seu lado, o South African Democratic Teachers Union, principal sindicato
de professores sul-africano, congratulou-se com estes resultados e considerou-os
como uma viragem decisiva na transformação do sistema educativo, lembrando,
porém, que subsistem fortes desigualdades entre as diferentes regiões do país.
As províncias com taxas de aproveitamento mais baixas são também as menos desenvolvidas,
com uma população maioritariamente negra e rural. As províncias mais ricas,
como o Cabo Ocidental (Cidade do cabo) e de Gauteng (Joanesburgo), por exemplo,
obtêm, respectivamente, taxas de aproveitamento de 82% e 73%.
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