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Que desporto para os estudantes das universidades portuguesas?

Num país com escassos recursos financeiros é lamentável a falta de coordenação que existe entre os sectores da Educação e do Desporto, por não se conseguir um processo de relação e interacção entre o Desporto que se devia praticar na Escola e aquele que os clubes vão oferecendo. Esta incapacidade dos nossos dirigentes políticos tem permitido que se esbanjem recursos humanos, instalações, dedicações, talentos, verbas e a auto-estima de um povo que naturalmente gosta da actividade desportiva, da superação e de se rever nos feitos dos seus melhores atletas, dos seus clubes preferidos e das nossas selecções.

Mas o que poderá aspirar em termos desportivos o jovem felizardo, rapaz ou rapariga, que consegue atingir o ensino universitário? Não muito! Primeiro porque vai ser membro de um corpo de alunos na casa dos milhares, onde se vai confrontar com horários muito pesados e sem qualquer lógica, construídos para rentabilizar ou favorecer os interesses exclusivos dos professores, e do reduzido número de salas e meios de ensino.

Em segundo lugar terá um muito reduzido número de instalações desportivas, na maioria dos casos completamente desajustadas com os actuais interesses e disponibilidades dos estudantes e sem qualquer tipo de apoio técnico.

Não será difícil defender o valor do Desporto enquanto meio de formação e manutenção da saúde, mas o assumir destes princípio exigirá investimentos muito elevados que a curto, médio prazo estão completamente fora das capacidades das universidades públicas portuguesas.

Em universidades com mais de 15000 alunos, imagine-se o número de professores de desporto que seriam necessário contratar para enquadrar um plano regular e generalizado de actividades desportivas. E a quantidade de instalações e equipamentos necessários para tal. E os problemas que acarretaria em termos da feitura dos horários gerais.

Perante este mar de dificuldades, o que acaba por existir são apoios pontuais e específicos de cada universidade através de serviços de Desporto para os mais interessados e o apoio ao movimento associativo dos estudantes para a realização de campeonatos por modalidade desportiva, onde participam os mais dotados, ou os amigos, para tentarem elevar o nome do seu curso, faculdade ou universidade em campeonatos que, com maior ou menos dificuldade e precariedade, os organismos estudantis locais, regionais ou nacionais vão desenvolvendo.

Pensar num país desenvolvido, em que a população disfrute de uma prática desportiva regular e generalizada, exige uma política integrada que seja coerente e que acompanhe toda a vida do cidadão, pouco importando quem a organiza e a comanda.

Portugal precisa de líderes conhecedores e corajosos, que tenham ideias claras sobre o acesso que cada português deve ter para que se cumpra o estabelecido na Constituição da República sobre o acesso ao Desporto. A escola por garantir um acompanhamento de cerca de vinte anos aos jovens, deverá ser do nosso ponto de vista o centro nevrálgico e distribuidor de todo o sistema desportivo, mas para isso há que ter a coragem de romper com a tradição de o Desporto ser muito mais um fim (para muitos interesses e interessados), do que um meio para se atingir uma sociedade cada vez mais igual, saudável e feliz.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 109
Ano 10, Fevereiro 2002

Autoria:

José Pedro Sarmento de Rebocho Lopes
Professor Auxiliar da Fac. de Ciências do Desporto e Educação Fisica, Univ. do Porto
José Pedro Sarmento de Rebocho Lopes
Professor Auxiliar da Fac. de Ciências do Desporto e Educação Fisica, Univ. do Porto

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