Sendim, las Gaitas de Fuolhes e Gaiteiros de Lisboa em Macedo
BÙRACH. Discretos na rectaguarda, manipulando uma infinidade
de botões, muito raramente os técnicos são vistos, também eles, como protagonistas
de um concerto. No entanto, eles estão lá, como o prova este senhor, acólito
dos escoceses Bùrach. Sem o seu trabalho, talvez a voz quente de Ali Cherry
e a esfuziante presença de Sandy Berchin (acordeão) não permanecessem na memória
como uma das imagens de marca do II Festival Intercéltico de Sendim (3 a 5 de
Agosto). Dito isto, não se pense que a iniciativa não teve outros motivos de
interesse: desde logo, o concerto de abertura, a cargo dos portugueses Realejo,
bem secundados pelos galegos Na Lúa; também os asturianos Felpeyu, que antecederam
os já citados Bùrach, e os portuenses Lelia Doura; ainda, e sobretudo, os castelhanos
Tradere - atenção ao seu belíssimo "Andar Andola" (La Fabrica de Ideas, 2000).
Sob o alto patrocínio da Câmara Municipal de Miranda do Douro e da Junta de
Freguesia de Sendim, a organização esteve, mais uma vez, a cargo da associação
juvenil Mirai Qu'Alforjas e da produtora Sons da Terra, numa iniciativa que
pretende assegurar um festival diferente, onde a festa, o convívio e a partilha
de experiências possam ocorrer. Como aconteceu na Taberna dos Celtas - funcionando
até ao nascer do sol, este espaço funciona como verdadeiro ponto de encontro
dos noctívagos mais esfomeados, sedentos ou desejosos de tocar, cantar, bailar.
E como nem só de folia vive este evento, a programação incluía visitas ao património
natural e arqueológico das Terras de Miranda, exposições e conferências sobre
temáticas galaico-mirandesas. A próxima edição já está no adro. Para não variar,
acontecerá no primeiro fim-de-semana de Agosto do próximo ano e promete novidades.
A acompanhar.
PRUOBA: CAPITAL DE LA GAITA. O convite não podia ser mais
apelativo: Ben a scuitar la gaita a este lhugar / I se la tenes trai-la pa la
tocar... / Para que cun alma I coraçon / Assi se mantenga la tradiçon... Estamos,
ainda, em Terras de Miranda: a Póvoa (La Pruoba) é uma aldeia - estrada para
Vimioso, a cerca de 7 Km de Miranda do Douro -, mas assume-se como capital.
Mais concretamente da gaita-de-foles. Por isso, ali vem ganhando raízes a Festa
da Gaita-de-foles; ou Fiesta de la Gaita de Fuolhes, como os organizadores preferem
dizer. Promovida pelo Grupo Cultural e Recreativo 'Renascer das Tradições',
a festa realizou-se este ano pela terceira vez (1 e 2 de Setembro), congregando
largas dezenas de gaiteiros e centenas de outros festeiros entre a Póvoa e o
magnífico envolvimento do santuário de Nossa Senhora do Naso - refira-se que
os locais acreditam terem ocorrido aqui os primeiros fenómenos marianos, lá
pelos idos de 1800 e qualquer coisa. Resumidamente, a festa foi assim: a abrir,
no sábado, uma ronda de gaiteiros pelas ruas da Póvoa; seguiram-se algumas conferências,
antecipando o I Encontro de Jovens Gaiteiros (e eram muitos); chegada a hora
do jantar comunitário, a função teve lugar nos cabanais do Naso, onde foi possível
comprovar a qualidade das carnes e das batatas mirandesas (o vinho, nem por
isso, embora corresse a rodos); dando corpo a uma grande noitada, a festa propriamente
dita, com intervenções de gaiteiros de Constantim e Póvoa, Freixenosa, Bila
Chana de Braceosa, S. Martinho, Malhadas (todos de Miranda), Urrós (Mogadouro),
Deilão (Bragança), Serapicos (Vimioso) e dos colectivos Gaitafolia (Lisboa),
Amigos da Rambóia (Mealhada), Aulas de Aliste e Trás-os-Montes (Castela/Leão)
e Ultreia (Galiza). No domingo, as 'hostilidades' prosseguiram com mais uma
ronda pela aldeia, a que se seguiu mais uma refeição comunitária (uma opípara
caldeirada de cabrito). A fechar, uma magnífica actuação do Ultreia-Obradoiro
de Música Tradicional, combinando canções, relatos e pormenores etnográficos,
pôs os mais resistentes a bailar sob um sol abrasador. Caso para dizer que a
festa acabou em festa. À despedida, o que mais se ouvia era "até pró ano".
GAITEIROS DE LISBOA. Para o público português, os Gaiteiros
de Lisboa serão, muito provavelmente, a formação mais apetecida, porque mais
conhecida, do II Festival Internacional de Música Tradicional de Macedo de Cavaleiros
(14 e 15 de Setembro). No entanto, o cartaz apresenta alguns nomes menos conhecidos,
que podem constituir gratas surpresas: ainda que correndo o risco de antever
o que se irá passar - esta edição estará a ser distribuída quando se começarem
a ouvir os primeiros acordes do festival -, talvez não seja estultícia avançar
com uma aposta nas prestações da Paranza di Somma Vesuviana (Itália), Ricardo
Tesi/Patrick Vaillant (Itália/França) e do Trio de Germán Diaz (Castela). Para
além destes, o cartaz contempla actuações dos Quenpallou (Galiza), Portal Votis
(Trás-os-Montes), Los Gatos del Fornu (Astúrias), Xarabanda (Madeira) e Saltabardales
(Cantábria). Ou seja, um largo espectro de músicas tradicionais, muito a propósito
antecedidas de animação das ruas de Macedo, a cargo da Banda de Gaitas Devalar-Torre
(Galiza), Caretos de Podence, Grupo Cultural da Casa do Povo de Macedo de Cavaleiros,
Pauliteiros de Salselas e Rancho Folclórico do Lombo. Organização da Câmara
Municipal de Macedo de Cavaleiros, com programação da Sons da Terra (produtora
do Festival Intercéltico de Sendim), este segundo festival corresponde a um
esforço acrescido relativamente à primeira edição do certame e apresenta-se
como "deveras especial, com características muito próprias, sobretudo ao nível
do envolvimento da população e da festa nas ruas e na Praça das Eiras". A confirmar.
António Baldaia
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