Sociedade que consente a exploração é
sociedade violenta e gera a violência
É doentio explorar os sentimentos de quem sofreu alguma
violência
Os professores não estão preparados para enfrentar
os problemas da violência
Licenciada na área de ciências Histórico-Filosóficas,
Graça Fernandes foi professora de História no ensino secundário
e particular entre 1960 e 1985. Participou e coordenou diversos grupos de trabalho
na área do desenvolvimento curricular no pós 25 de Abril. Mais
tarde, iniciou-se na formação de professores e foi orientadora
na área de História. Depois disso ingressou na Escola Superior
de Educação de Lisboa para leccionar metodologia de História
e participou nos grupos de trabalho para a unificação do ensino
secundário.
Actualmente, é directora do núcleo de Lisboa
Centro de Formação Instituto Irene Lisboa, cargo que ocupa desde
1993, tendo desenvolvido, desde então, investigação na
área dos conflitos e indisciplina na escola. Nesse âmbito, publicou,
para além de outras obras, o livro "Indisciplina na Sala de Aula".
Mais recentemente, tem trabalhado directamente com os professores nas escolas
sobre o tema da indisciplina, que confessa ser uma actividade que muito lhe
agrada. Uma dupla experiência, de vida e de conhecimento, que Graça
Fernandes acedeu partilhar nesta entrevista.
Violência e indisciplina são dois conceitos que habitualmente se
(con)fundem. Qual deles estará realmente presente na escola?
Para que esses conceitos não se fundam e, sobretudo,
para que não nos confundam, julgo útil começar por clarificar
o significado que lhes dou em contexto escolar. Sublinho o escolar. Assim, considero
a indisciplina inerente à instituição escolar, própria
das relações e inter-relações que aí se desenvolvem
e dos objectivos que aí se prosseguem. Os actos de indisciplina são,
muitas vezes, infracções das regras criadas pela escola para assegurarem
o seu bom funcionamento e, também por conflitos que, sendo frequentes
entre os alunos, o são também entre alunos e professores e pessoal
não-docente. Revestem múltiplas formas e manifestam-se por um
número ilimitado de ocorrências, das quais existe um repertório
riquíssimo na memória de cada adulto escolarizado.
Os actos de indisciplina são sentidos pelos professores
não só como modos de obstrução do seu trabalho,
impedindo a tranquilidade da aula, mas ainda como uma ofensa ao instituido,
traduzindo falta de consideração e respeito.
A indisciplina pode representar, para o professor, uma violência
dificilmente suportável, do mesmo modo que o aluno pode sentir como violência
a imposição de uma aprendizagem que não está apto
a fazer, de um ensino que não entende, de actividades de que não
gosta...
Mas não é, julgo eu, a esta violência que
a sua pergunta se refere. Será, antes, à violência manifestada
em agressões, em extorsões, na opressão e humilhação
do outro, na destruição de espaços e equipamentos.
Estas formas de violência, assumindo já contornos
de criminalidade, ocorrem em algumas escolas, atemorizando, quando não
aterrorizando, os jovens e os adultos que aí trabalham e afectando negativamente
as aprendizagens, o trabalho e a tranquilidade.
Coexistindo em muitas escolas, a indisciplina e a violência
são, no entanto, fenómenos diferentes na sua origem, na sua natureza
e nas estratégias a adoptar no seu enfrentamento. Circunstancialmente,
são, podem ser, convergentes nos seus efeitos: enfraquecer o ânimo
dos professores, deteriorar o clima das escolas, destruir a relação
pedagógica, reforçar o insucesso.
A violência é gerada por uma sociedade violenta,
desnorteada, opressora que consente a pobreza, a miséria e a exploração.
As crianças e jovens que vivem uma vida violenta são portadores
de uma "cultura de violência" que transportam e instauram na
escola, desde logo nas situações pedagógicas que lhes são
impostas. Há grupos de alunos que, nas escolas, sentindo-se obrigados
a passar muitas horas por dia em tarefas que, para eles, não têm
sentido, manifestam comportamentos violentos que atingem outros alunos, crianças
e jovens indefesos, atemorizáveis, facilmente exploráveis, sobretudo
por grupos organizados e frequentemente liderados por marginais.
Cabe reconhecer que estas situações não
se manifestam em todas as escolas, felizmente, nem em todo o país. Emergem
nos grandes centros urbanos, sobretudo em algumas zonas desses centros. Manifestações
de violência existem apenas em algumas escolas e sendo as suas causas
eminentemente sociais, o seu enfrentamento exorbita do plano pedagógico.
Em contrapartida, em todas as escolas existem manifestações de
indisciplina cuja intensidade, frequência e gravidade dependem de algumas
variáveis ? a relação aluno(s) com o(s) professor(es),
o modo como este gere o tempo e os recursos, estratégias e actividades
que utiliza, o "clima" da escola, a democraticidade da vida escolar.
É, pois, na escola que a indisciplina terá de ser enfrentada...
Admitindo que existe um crescimento dos casos de violência
e indisciplina na escola, não estará este tema a ser empolado
pela comunicação social? Isto é, não terá
a percepção dos acontecimentos passado a ser "selectiva",
não deixando agora "passar" o que anteriormente era relativizado?
Julgo que sim. Ultimamente os órgãos de informação
e comunicação social têm feito grande cobertura dos actos
de violência, nomeadamente daqueles que ocorrem nas escolas, dando-lhes
um tratamento sensacionalista. Parece-me que, muitas vezes, estão apostados
em explorar o dramatismo das situações e a emotividade dos seus
públicos. As notícias que envolvam alunos e escolas interessam
a grande parte da população, porque, de um ou de outro modos,
muitas pessoas sentem-se afectadas por aquilo que acontece nas escolas.
Do meu ponto de vista, se não é saudável
a exploração dos sentimentos ? dos que sofrem a violência
e de todas as pessoas que são público ? são muito, mas
muito, graves os efeitos dessas notícias naqueles que trabalham nas escolas,
particularmente nos professores, nos quais induzem sentimentos de vitimização,
convencendo-os de que a sua profissão é de "alto risco".
Em virtude da mobilidade do corpo docente, as notícias sobre actos de
violência ocorridos numa só escola podem atingir grande número
de professores, individualmente, e como classe. Podem atemorizá-los e
contribuir para que assumam comportamentos e sentimentos de impotência
que, em muitos casos, não se justificam.
Esta apreciação não significa que deseje
ver limitada a liberdade de informação, coartado o direito e o
dever de informar. O que me parece desejável é que a informação
situe e contextualise os acontecimentos, não deixando supor que são
generalizáveis a todas as escolas. Se o não fizer, estará
a contribuir para o agravamento do mal-estar docente, do stress dos professores
e, talvez, a induzir grupos de alunos a chamar sobre si a atenção
dos media para assim gozarem de uma projecção efémera.
Se um adulto é capaz de muito para aparecer numa notícia
da TV, o que não fará um jovem adolescente para ser um "herói"
durante um minuto que seja...
Será que nos podemos surpreender com a crise na escola
quando "existe uma desordem global fora dela", como sugeriu o ex-governador
civil de Braga, Pedro Bacelar de Vasconcelos, num recente encontro promovido
naquela cidade?
A crise da escola não deve, de facto, surpreender-nos
dado que as escolas não existem num "vazio" social. Se existe
uma "desordem social", ela atinge, certamente, todos segmentos da
sociedade, nomeadamente, todos os que trabalham nas escolas. Todavia, creio
que será útil não nos deixarmos influenciar por "chavões"
que facilmente circulam e são desprovidos de um conteúdo preciso.
Julgo, assim, que seria útil saber o que é a "crise",
como se manifesta, quem e como a produziu. Do mesmo modo, é indispensável
definir com precisão em que consiste e como foi gerada a crise escolar,
quais são os seus indicadores. Que conteúdos são os seus,
quem a sofre, e de que modos. Só assim se pode determinar as responsabilidades
imputáveis às políticas educacionais e procurar soluções
para os problemas identificados.
Os alunos vivem numa sociedade em transformação,
na qual persistem as mais abissais desigualdades. O desencontro de objectivos
individuais e colectivos, a ausência de normas, a ilusória consistência
dos valores geram antagonismos que se manifestam na instituição
escolar cuja função actual é, no fim de contas, impor a
normatividade de comportamentos e modelos culturais que não são
aceites por todos os destinatários.
Quanto a mim, é inquestionável que a escola se
deve abrir a todos e que todos aí devem ter lugar, o que não pode
significar a sua homogeneização. Pelo contrário, a escola
tem de encontrar modos diferentes de funcionar e respostas diferentes, encarando
com frontalidade que já lá vai o tempo em que apenas frequentavam
as escolas alunos socialmente seleccionados e que, actualmente, tem de aprender
a trabalhar com aqueles que lá entram sem as competências sociais
que ela tanto preza.
Nesse sentido, que responsabilidade poderá ter a
escola na resolução de um problema que não é directamente
causado por ela?
A escola tem os seus próprios problemas, que ela própria
gera e pelos quais é responsável. Um deles, senão o principal,
reside no facto de não ser capaz de reflectir criticamente sobre a "crise"
e de não a enfrentar com a necessária lucidez.
A instalação de meios de vigilância
nas escolas será a melhor forma de resposta?
Será, talvez, uma resposta possível, mas o problema
permanece.
Os meios de vigilância podem ajudar a escola a defender-se
de manifestações da violência que está fora da escola
ou a evitá-los. Quem deve ajuizar da sua necessidade e eficácia
são, naturalmente, aqueles que trabalham na escola. Saberão decerto
que esses meios não solucionam os problemas mas que proporcionam alguma
da protecção de que carecem para poderem realizar o seu trabalho.
O que posso dizer-lhe é que não gostaria de exercer
o meu ofício numa escola como a que referiu e julgo necessária
muita coragem e muito ânimo àqueles que teimam em trabalhar em
tão difíceis circunstâncias.
Escolas degradadas e obsoletas, sem espaços para
convívio ou para a prática de desporto, não gerarão
nos alunos uma falta de gosto pelo espaço escolar e um consequente "gosto"
pela vandalização de um espaço que deveria ser seu?
O espaço e o modo como está tratado exercem sobre
nós grande influência: o conforto, a organização,
a harmonia, a iluminação, a limpeza, são elementos decisivos
do nosso bem-estar, tal como a desordem, a degradação, o desconforto,
a agressividade, a fealdade, a sujidade, só podem ter efeitos negativos
no nosso comportamento.
Se os locais onde vivemos são tão importantes
para o nosso bem-estar e condicionantes dos nossos comportamentos, naturalmente
o serão mais ainda nas escolas onde os alunos passam muitas horas das
suas vidas em processo de formação.
Espera-se que a escola, para dar resposta ao que dela se exige,
disponha de espaços não só de ensino mas também
de lazer e convívio, todos eles bem cuidados e apetrechados. ? o mínimo
a exigir. Nada pode explicar que ainda se dê o nome de escola a um edifício
atravessado pela chuva e pelo vento, e onde as temperaturas são excessivamente
baixas no Inverno, ou altas no Verão. Onde não há espaços
de recreio, cantina, refeitório, biblioteca, instalações
sanitárias dignas desse nome, onde os alunos, quando não têm
aulas, sofrem as intempéries e o aborrecimento fruto da desocupação.
Todos sabemos que a Educação Física, a Educação
Visual, a Educação Tecnológica, as Ciências experimentais,
a Informática requerem espaços e equipamentos próprios,
sem os quais não há aprendizagem. Reduzir a escola a um conjunto
de salas apenas apetrechadas com mesas, cadeiras e um quadro de giz, como muitas
vezes acontece entre nós, é condenar alunos e professores a situações
que só podem suscitar revolta. Do meu ponto de vista, é uma revolta
salutar porque demonstra que alunos e professores têm capacidade para
reagir. Não basta "escrever" reformas curriculares. É
preciso dotar as escolas dos meios efectivos de ensino e aprendizagem. Não
basta afirmar, por exemplo, que a Educação para a Cidadania é
uma prioridade. É preciso que os alunos e professores se sintam tratados
como pessoas, que as escolas sejam dotadas de condições de habitabilidade,
conforto e segurança para que uns e outros aí se sintam bem. A
ausência destas condições é apenas imputável
ao governo e, tal como em muitos outros sectores da vida nacional, o "tentar
remediar" tem sempre custos mais elevados (de vária ordem) do que
o tentar prevenir. Investir nas condições acima enunciadas é,
indubitavelmente, indispensável ao sucesso da escola e ao "bom comportamento"
dos que lá trabalham.
Que papel têm os conteúdos televisivos no fomento
do fenómeno da violência? Será que ela se tem vindo a substituir
aos encarregados de educação na formação de comportamentos
das crianças e jovens?
Seria necessário fazer estudos, conduzidos com rigor
e credibilidade científica. Na sua ausência só posso dizer-lhe
que há um grande número de crianças que passam tempo excessivo
em frente de um televisor, consumindo os programas que lhes são proporcionados.
E sabemos como estes programas são falhos de qualidade educativa... Tais
situações verificam-se no plano da educação familiar,
porque, com frequência, os encarregados de educação transferem
para o televisor o papel não de "educar" mas de distrair e
recrear a criança. Mas não sejamos demasiado severos para com
as famílias. Ao fim de uma semana de desgaste, nem sempre resta a energia
necessária para ser disponível. Entretanto, cabe criticar com
toda a severidade a baixa qualidade da maior parte dos programas televisivos
infantis e juvenis e também a ausência de uma intervenção
do Estado neste domínio que possa constituir-se como um modelo educativo.
E os professores? Estarão eles preparados para lidar
construtivamente com este problema? Recentemente, um responsável de uma
associação profissional de professores sugeriu a seguinte ideia:
"os professores deixaram de poder bater nos alunos, agora são os
alunos que batem nos professores. É preciso que um professor, quando
um aluno se porta mal, dar-lhe um par de estalos". Concorda?
Pergunta-me se os professores estão preparados para
enfrentar os problemas de violência que assolam as nossas escolas ? Em
minha opinião, não estão preparados nem para as enfrentar
e muito menos para as gerir "construtivamente", como diz. Esse tema
não faz parte da sua formação, e quase me apetecia dizer,
da vocação do seu ofício. Poderão manifestar mais
ou menos bom senso e tacto quando são obrigados a lidar com a violência,
tal como qualquer cidadão, sendo desejável que esse bom senso
os aconselhe a não usarem a violência como retaliação.
Se usarem o tal "par de estalos" a que se referiu, irão, certamente,
agravar as circunstâncias. Os jovens violentos sabem enfrentar situações
violentas, têm uma cultura própria que não os deixa intimidarem-se
facilmente. O uso da força (e é preciso tê-la) com um aluno,
só diminui e indignifica. É uma confissão de impotência
e desespero.
Não sendo os professores preparados e vocacionados para
resolver os problemas de violência que ocorram nas escolas, deveriam saber
ao menos a quem pedir ajuda nesses casos. Ou seja, para além da intervenção
policial, à qual compete, em última instância, afastar das
escolas os delinquentes, utilizando os meios apropriados, de modo a garantir
eficazmente a segurança dos alunos nas proximidades dos estabelecimentos,
são necessárias equipas de profissionais que saibam diagnosticar
e encaminhar os alunos violentos.
Acho verdadeiramente irresponsável que as autoridades
educacionais remetam para os docentes e órgãos de gestão
das escolas a solução de casos que não são do foro
escolar.
O mesmo não se passa com a indisciplina. Os professores
devem estar preparados para lidar com ela, estudando, analisando situações
e problemas e experimentando estratégias. Seria bom que tal estudo fosse
uma componente dos currículos da formação inicial e contínua
dos professores, a fim de que, quando se lhes deparam as primeiras ocorrências,
estivessem preparados para lhes fazer frente. Existe actualmente um grande número
de estudos, alguns deles de muito bom nível, que ajudam os professores
a perceber o que provoca a indisciplina, a analisar as variáveis a controlar,
e como é importante o estabelecimentos de actuações concertadas
com os seus colegas. Está disponível abundante bibliografia que
proporciona e alimenta a reflexão individual e colectiva e propõe
estratégias que, respeitando a personalidade de cada um, permitem o ajustamento
dos professores à diversidade dos alunos, das situações
de aprendizagem e da diferenciação dos processos didácticos.
É possível à escola, como instituição,
fazer face às situações que excedem um limiar aceitável
de indisciplina, constituindo-se como obstáculos ao sucesso das aprendizagens.
E, desde que o corpo docente de uma escola se empenhe nessa tarefa colectiva,
obtém resultados. Conheço alguns exemplos.
A resolução dos fenómenos de violência
não passará, então, em grande medida, pela mudança
de relação entre os diversos actores do espaço escolar
e pela crescente responsabilização e implicação
dos alunos na tomada de decisões?
Estou convencida de que o relacionamento, sobretudo a relação
que o professor estabelece com o aluno e com a turma, é fundamental.
Os alunos são extremamente sensíveis ao modo como são olhados
e ouvidos. Privilegiam acima de tudo essa relação baseada no respeito.
Esperam e desejam que o adulto procure compreendê-los, seja firme, honesto
e justo. Se a relação se constituir nesta base, são capazes
de corresponder com respeito e até com afecto, fazendo aquilo que julgam
que agrada ao professor. Caso contrário, também são capazes
de fazer todos os distúrbios para o perturbar.
O respeito não se demonstra com palavras e declarações
de princípio, mas através de actos e atitudes, de entre as quais
destaco aquelas que enunciou: a responsabilização e a implicação
na tomada de decisões. Um exemplo: a construção das regras
que deverão reger o trabalho e o convívio na sala de aula. A estipulação
de regras no início do ano lectivo, dizem todos os autores, é
indispensável ao normal funcionamento da classe. Decerto, mas não
devem resultar de uma imposição unilateral. O seu efeito será
tanto melhor quanto mais aprofundada for a participação dos alunos
no seu estabelecimento, individualmente, e em assembleia de turma, juntamente
com o professor e após o debate dos problemas. Se, para cada regra que
consideraram importante, estabeleceram as consequências do seu incumprimento,
se as regras se aplicarem ao professor do mesmo modo que aos alunos, haverá
um funcionamento democrático da turma, em que cada um pode expressar
livremente a sua opinião e a decisão colectiva será por
todos respeitada.
Além do estabelecimento das regras, da atenção
e cuidado que põe na relação, o professor evitará
muitas ocorrências desagradáveis, se preparar as suas aulas, prevendo
as actividades mais adequadas aos alunos e que mais os impliquem na sua própria
aprendizagem e lhes confiram responsabilidades. Também neste domínio
o professor pode encontrar apoio numa vasta bibliografia que o ajudará
a diferenciar actividades e, sobretudo, a permitir que os alunos tenham um papel
activo e, muitas vezes criativo, durante as aulas.
Finalmente, se o professor estiver atento e disposto a encorajar
e a reforçar os comportamentos que demonstram interesse, e empenho, se
recompensar os seus alunos com gestos e palavras que traduzem a sua satisfação,
se valorizar os bons procedimentos, criará na sua aula um clima mais
afectivo, fraterno e securizante.
Não deverão os alunos ser implicados directamente
na resolução dos problemas, participando directamente na definição
de objectivos, normas de funcionamento e regras de comportamento, incluindo
as de ordem disciplinar? Nesse sentido, considera que a Assembleia de Escola
pode ser um instrumento válido?
Dou-me conta que ao longo das últimas respostas já
lhe dei a minha opinião sobre este assunto. Reafirmo que a democraticidade
na vida da escola passa por considerar os alunos como pessoas responsáveis,
capazes de intervir e de contribuir para a solução de inúmeras
questões e problemas relativos à actividade escolar. O que não
significa que os professores não detenham um poder que não é
compartilhável com os alunos, o poder que lhes é conferido pelo
seu saber profissional e uma autoridade inquestionável que lhe advém
do exercício do seu papel de educador. Autoridade e poder que têm,
no entanto, limites e que serão tanto mais incontestados quanto mais
abertamente forem exercidos, não recusando o diálogo, o confronto
de ideias, o respeito pelas posições alheias.
Existe, em cada escola, um elevado número de questões
cuja gestão é da alçada dos alunos. Deve ser-lhes dada
voz, estimulando o seu associativismo de modo que, organizadamente, possam intervir
no colectivo que é uma escola, exercitando-se na defesa dos direitos
e interesses comuns, na exposição dos seus problemas, na apresentação
e execução de propostas, na participação em todos
os acontecimentos que envolvam a comunidade escolar.
Sem querer retirar importância à Assembleia da
Escola, relevo o papel da assembleia de turma como o espaço mais adequado
ao exercício do direito de intervenção e do dever de participação,
à resolução dos conflitos.
Entrevista conduzida por: Ricardo Jorge Costa
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