Os atrasos que continuam a verificar-se no sector da Educação
em Timor-Leste devem-se, em grande parte, à "pouca flexibilidade" e à
excessiva burocracia da Organização das Nações Unidas
(ONU), considera o responsável pelo sector, padre Filomeno Jacob. "A
burocracia é pesadíssima e sinto que há pouca flexibilidade
nos processos. Querem aplicar aqui os prazos dos processos que seriam normais
noutros países, mas num país em estado de emergência isso
não vai funcionar", considerou.
Em declarações aos jornalistas, o ministro dos
Assuntos Sociais, que engloba a pasta da Educação, explicou que
apenas foram recuperadas cerca de 15 por cento das salas de aula projectadas
para beneficiar de obras desde a abertura do ano escolar, em Outubro. Das 2.100
salas previstas, apenas 300 foram recuperadas no âmbito do projectos implementados
pela ONU e custeados pelo fundo administrado pelo Banco Mundial.
Apesar de se considerar "mais optimista do que há três
meses", Filomeno Jacob refere que os atrasos ainda são significativos,
especialmente dadas as expectativas elevadas da população timorense.
"Os materiais estão aqui e estamos a avançar. Mas tudo isso demorou
muito tempo devido à falta de flexibilidade e de abertura para esta situação,
que tem a ver com os prazos dos projectos e das companhias", considerou. "Não
há capacidade de se organizar as coisas nos prazos necessários.
Por isso, o povo diz que não se faz nada e continua à espera",
sublinhou.
A ONU confirmou, também, ter já distribuído
os primeiros 300 jogos de mobiliário escolar que foram encomendados a
carpinteiros timorenses, no âmbito do projecto de recuperação
das salas de aula de Timor-Leste. O mobiliário foi entregue a escolas
em Aileu, Maliana e Manatuto, esperando-se que todas as 600 escolas abrangidas
pelo projecto possam ter o seu mobiliário pronto até Abril.
Aposta em parcerias
Para Filomeno Jacob, os atrasos são mais um sinal de
que continua a ser preferível, em alguns casos, optar por projectos bilaterais,
como é o caso do Liceu do Díli, que está a ser reconstruído
pela Câmara Municipal de Lisboa, e da Escola do Farol, que está
a ser reconstruída pela Câmara da Amadora.
Apesar de defender que todos os projectos em curso devem ser
coordenados pela administração transitória, Filomeno Jacob
prefere que sejam as próprias estruturas envolvidas nas parcerias a administrar
e implementar os projectos. "Diria que a coordenação é
necessária, mas a preparação e a realização
deve fazer-se pelos timorenses com quem pode ajudar, neste caso Portugal. O
que me interessa é que as coisas andem e funcionem, para que os projectos
avancem".
O projecto de reconstrução da Escola do Farol
pelo município da Amadora, que será feito por uma firma timorense,
foi louvado pelos responsáveis da escola, em especial a directora, Filomena
Cepeda, durante a visita do responsável camarário. "A língua
de Camões não vai acabar nesta nossa escola, que também
serviu filhos portugueses. Quem sabe alguns deles estejam já em lugares
de chefia em Portugal...", disse a directora da escola.
Falando aos jornalistas, o presidente da Câmara Municipal
da Amadora, Joaquim Raposo, disse ter ficado comovido com a recepção
com que foi recebido na escola, desafiando outros municípios a apoiar
outras escolas em Timor-Leste: "Escolham uma escola em Timor e façam
um investimento na sua recuperação. Aqui é que é
a grande aposta. É preciso investir na educação".
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