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A Profª. Andrée Rocha fala da 'CRÓNICA DE DAMIÃO' de Serafim Ferreira

Prémio Literário MIGUEL TORGA / 1996

Com uma actividade literária que se estende ao longo de três décadas, Serafim Ferreira assina obras da mais diversa índole. Ficcionista, ensaísta, crítico literário, tradutor de romancistas e pensadores de renome, se não figuram no seu curriculum obras de poesia, não lhe é de modo algum indiferente, como o provam as várias antologias poéticas que organizou e a pertinência das citações ou alusões que aparecem nalguns dos seus livros. Criador e leitor empenhado, Serafim Ferreira é também coleccionador. Entendamo-nos, colecciona prémios literários. De 1985 para cá, juntou 7, digo 8, se contarmos com o que lhe vai ser entregue agora, e que ganha pela segunda vez consecutiva.

E esta circunstância leva-me a reflectir sobre uma das particularidades do autor: a sua capacidade de renovação. Se é verdade que em todo o escritor há paradigmas que permanecem de livro para livro e permitem, até certo ponto, uma identificação de autoria, quem leu as narrativas de Serafin Ferreira - nomeadamente Mar de Palha - não imaginaria da mesma pena a Crónica de Damião, agora galardoada. E isto constitui uma primeira originalidade. Outra reside na efabulação e na construção do volume.

Suposto romance autobiográfico de Damião de Góis, assume a feição de memórias póstumas, pois é dum limbo actual que, passados séculos, a sombra do humanista recorda a sua atribulada existência. Daí resulta mais uma originalidade: a de pôr em paralelo, mesmo que brevemente, situações vividas por Damião de Góis, com outros semelhantes, mas do nosso tempo. Assim surgem alusões a eurodeputados, ao Teatro de D. Maria, a Gonçalves Cerejeira, à corrupção reinante, etc., sempre no intuito de focar actuações nacionais que perduram através dos tempos e se esclarecem mutuamente. De notar também o afinco de captar nas fontes históricas acessíveis todas as facetas da personalidade retratada. Tal volume de informação abrange o erasmismo, história literária, Inquisição, música (de que o herói foi cultor e que lhe valeu uma última denúncia ao Santo Ofício). A este propósito, não resisto a assinalar-lhe a existência, na Biblioteca Real de Bruxelas, dum encantador voluminho de madrigais da autoria de Damião.

Por tudo isto, a obra agora premiada apresenta sobejos motivos de interesse. E só me resta felicitar o premiado e desejar-lhe o prosseguimento feliz da sua já longa carreira de escritor.

Palavras proferidas no jantar de entrega do Prémio Literário MIGUEL TORGA,

a que presidiu o Primeiro-Ministro Engº. António Guterres (Hotel Astória - Coimbra,

4. Julho.1996).

Serafim Ferreira

CRÓNICA DE DAMIÃO

Ed. Escritor / Lisboa, 1997.


  
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Autoria:

Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.
Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.

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