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à espera do romance numa grande superfície

Há dias vi o José Cardoso Pires a ser entrevistado num canal de televisão e fiquei entusiasmada com o tema do livro que ele publicou mais recentemente. Trata-se de um testemunho de vida (são todos?) de alguém (ele próprio) que esteve mais para lá do que para cá, quase morto e regressado sem memória... Prefaciado e recomendado pelo Lobo Antunes (o neurologista), o livro ainda não chegou às grandes superfícies... Tenho estado atenta, sempre fica mais barato. Outra hipótese é comprá-lo na Feira do Livro, que já abriu, mais uma vez no Palácio de Cristal...

Houve uma altura em que só comprava livros escritos por mulheres. Para compensar uma biblioteca excessiva e inevitavelmente masculina. Mas voltei a ceder... Na verdade, nem escritos por mulheres, nem escritos por homens. Há tanto tempo que não compro um livro... Só tenho comprado jornais e revistas, que nem chego a ler... E há quanto tempo não vou ao cinema? E ao teatro? Ao teatro nem é bom pensar?

Há 20 anos, por altura do 25 de Abril, era uma habituée de tudo... Está aí, de novo, o FITEI. Queria ver se não perdia um dos espectáculos dos "Comediants", um grupo de Barcelona que já esteve no Porto, creio que no Teatro Carlos Alberto, com uma peça chamada "Os Virtuosos de Fontainebleau".

Este ano o FITEI vai na vigésima edição. Está tudo a fazer 20 anos. Li que o Poder Local está a comemorar 20 anos, que vai sair uma revista que se chama 20 anos (é cópia de uma que se publica em França). Está tudo a fazer 20 anos, até o meu filho já fez 20 anos... Que roteiro para uma mãe que tem um filho de 20 anos, a começar a Universidade?

Há 20 anos, os livros eram muito mais baratos... E não havia CDs, nem videos, nem tanta revista, nem tanto jornal. Havia mais jornais? De certeza? Tenho a sensação contrária. Há 20 anos eu tinha vinte e poucos anos e outro brilho nos olhos, estava apaixonada por tudo, até por poder dar aulas... Não havia tanta televisão, eu raramente via televisão...

Tenho de comprar o livro do José Cardoso Pires sobre a memória. Há fenómenos estranhos, estou agora a lembrar-me de um telejornal que terá passado há 20 anos. Foi sobre um congresso dos escritores portugueses. O presidente da APE era o José Gomes Ferreira e o congresso foi encerrado, ou aberto, por uma intervenção do primeiro-ministro. que era o Vasco Gonçalves.

Lembra-me como se fosse hoje: o Fialho Gouveia abriu o telejornal e disse que iriam transmitir, na integra, o discurso do Vasco Gonçalves no congresso dos escritores. O Vasco Gonçalves disse que o MFA não queria dirigir os escritores, os "meninos-escritores", que o MFA era contra o dirigismo na Arte e só pedia aos intelectuais que recriassem em torno dos temas que quisessem, incluindo os mais universais, como o tema do amor. Cheguei a dar uma aula com base nesse discurso. Já nem sei como o obtive.

Gosto deste novo espaço do roteiro mas, na verdade, apesar de agradada pelo convite, acabei por fugir à proposta. Como diz alguém que não quero citar "qualquer texto pode ser pretexto para outro texto". Estou um bocado como o colega Moura que escreveu um roteiro quase que em resposta ao escrito do colega Borges. Henrique, não Jorge Luís. Fica sempre bem um pouco de erudição na Página, com e sem maiúscula.

Como é que vou terminar esta coisa que tem título no fim? Roteiros? Gastos? Não vou perder a EXPO'98 e como sou professora tenho de aproveitar os descontos da compra antecipada de bilhetes. Um bilhete para três dias, comprado agora, custa dez contos. Lá se vão vinte continhos que não são de fadas. Ainda não será este ano que regresso à Feira do Livro. Bem tenho que esperar que o José Cardoso Pires chegue às grandes superfícies.

título no fim: à espera do romance numa grande superfície



  
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Autoria:

Ana Ribeiro

Ana Ribeiro

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