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Alguns parágrafos sobre o quente mês de Setembro e sobre o domingo que foi o último dia de Agosto

Lady Di, a princesa de Gales, morreu, em Paris, na madrugada do dia 31 de Agosto de 1997. A anterior edição de 'a Página' estava já informaticamente encerrada, embora fosse possível reabri-la, sem causar atraso, para paginar uma breve a registar o acontecimento, num canto mais ou menos nobre, de uma página vagamente notiiciosa. Mas à hora da morte da princesa só seria possível incluir uma notícia solta a dizer que ela tinha morrido. Para sair 48 horas depois e num mensário sem a vocação dos 'paparazzi'? A trágica morte de Diana de Gales ocorreu a horas impróprias para a pequena e média comunicação social. A morte dela atrapalhou muita coisa.

Subitamente, numa madrugada parisiense, a cento e noventa e tal quilómetros à hora, um potente automóvel de marca alemã atropelava, dizem que mortalmente, a imprensa sensacionalista, cor-de-rosa, dita também tabloide. Dias mais tarde entrava no Conselho da Europa um pedido para a discussão de uma convenção sobre a vida privada. Diana de Gales, cuja morte é, para alguns, um assassinato, morreu antes de receber o Prémio Nobel da Paz que ainda não lhe tinha sido atribuído, ao contrário do que acontecera a Madre Teresa de Calcutá, que também morreu por esta altura, depois da morte mas antes do funeral de Diana.

Uma era princesa outra era freira, uma era Diana outra era Teresa, uma dizia-se de Gales outra de Calcutá... No dia em que o funeral de Diana Spencer batia todos os recordes de audiência televisiva para espectáculos em directo, em Argel um comando provocava uma chacina. Teresa de Calcutá morreu na sexta-feira em que começava, em Lisboa, a Festa do Avante. O. segundo dia da festa foi o do enterro de Diana. Em alguns jornais e noutros tantos telejornais só houve espaço de primeira para os comunistas portugueses da Festa do Avante nas edições de rescaldo de segunda-feira

Na semana seguinte, o mau tempo (chuva e vento fortes) atingiu os Açores causando uma morte e elevados prejuízos materiais. No mesma semana, alegados favores a médicos portugueses, prestados por laboratórios de medicamentos, transformaram-se num dos temas da agenda político jornalística. Teresa de Calcutá foi a enterrar na Índia, os massacres na Argélia não pararam e, em Pequim, começou o XV Congresso do Partido Comunista da China.

O crime de Sacavem (morte e decapitação de um toxicodependente detido pela GNR) começou a ser julgado. O caso foi o que inspirou o escritor António Tabucchi para o romance 'A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro', obra de ficção localizada no Grande Porto, o que desagradou alguns autarcas da região. 'Aparentemente um thriller e, ao mesmo tempo, uma reportagem jornalística'. Já alguém escreveu sobre o hipotético assassinato de Diana Spencer às mãos de uns quaisquer serviços secretos?

Setembro foi o mês da abertura do centro comercial Colombo, em Lisboa, dito o maior da Península Ibérica. Setembro foi o mês da abertura do ano lectivo em curso, abertura dita com 'normalidade' como se o cumprimento de prazos e ou a pontualidade fossem as únicas medidas de aferição da 'normalidade'. Setembro foi um mês quente. Em Oslo, uma conferência aprovou um texto que aponta para a eliminação total das minas anti-pessoais. Nem o facto de ter sido uma bandeira que Diana Spencer erguia frequente e visivelmente levou os Estados Unidos da América a assinar o comunicado final.

A equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica, vulgo Benfica, continuou, em Setembro, a sofrer desaires desportivos tão significativos que o treinador, Manuel José, foi 'despedido', com alegada justa causa, a mando da entidade patronal. O treinador assalariado, face a este atropelo legal e ao não cumprimento do contrato que o liga ao Benfica, convocou uma conferência de Imprensa que teve honras de transmissão em directo nos três canais de televisão - RTP, SIC e TVI. Setembro foi o mês de mais uma revisão da Constituição da República mas este acontecimento teve muito menor impacto mediático.

As coisas valem pelo que delas se diz na televisão. Pela visibilidade que apresentam junto da opinião pública. Em Guimarãres, a CGTP promoveu uma jornada nacional em defesa das 40 horas de trabalho semanal. No Porto celebrou-se o primeiro centenário do descanso dominical do comércio. O 'primeiro domingo de borga', como referia a Imprensa da época, ocorreu no dia 26 de Setembro de 1897 De uma maneira geral, a comunicação social manteve um enorme respeito pela privacidade daquela luta e desta efeméride.


  
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Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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