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alguns parágrafos sobre o mês anterior ao de ABRIL de 97

O Tribunal de Setubal foi implacável: pena máxima para os cabecilhas do chamado “bando do multibanco”, uma “família” de criminosos que sequestrava pessoas, em regra mulheres, para as violar e roubar. Num caso, o mais conhecido, o bando matou uma jovem mulher, com requintes de sadismo. Sem atenuantes, o tribunal admitiu que não haverá qualquer esperança de recuperação social dos condenados.

A possibilidade científica de se clonar seres humanos começou a assustar muita gente, em muitos locais do Mundo. A já célebre ovelha Dolly, aquela que é verdadeiramente uma filha da mãe, sem pai, uma ovelha clonada, isto é, criada artificialmente à imagem da ovelha que lhe serviu de modelo, veio dar notoriedade ao feito científico da clonagem... “Big Brother is trying to eat you”.

Um semanário da capital (lugar-comum que, no caso, significa o “independente”) garantiu que o valor das propinas no Ensino Público iria ser igual ao salário mínimo nacional. Da 5 de Outubro (eufemismo que, no caso, significa Ministério da Educação) saiu, de imediato, um lacónico comentário a classificar tal notícia como especulação jornalística. Dias depois, a Juventtude Socialista e o ministro da Educação, primeiro aquela do que este, confirmaram-na.

O jornal público editou João Loio e o Canto Nono, dois CD´s a não perder. O Ministério da Educação editou uma brochura a fazer auto-crítica sobre a política para o Ensino Secundário e a reconhecer que alguns programas são longos, alguns professores estão descontentes, e que haverá currículos desadequados. Vital Moreira, professor de Direito em Coimbra, que renunciou ao lugar de deputado por discordar do acordo de revisão constitucional PS/PSD, fez publicar num matutino de referência (no caso, o jornal Público) um artigo, sobre liberdade e manipulação, que bem merecia outra localização que não entre uma página inteira de públicidade (a página 10 do dia 25 de Março) e a meia página de anúncios da página 11.

A lei do aborto voltou à assembleia da República quando a deputada Odete Santos levou a plenário um voto de pesar pela morte, no bairro portuense de Aldoar, de uma mulher que acabara de fazer um desmancho, expressão popular para uma interrupção voluntária de gravidez, quando efectuada clandestinamente e sem condições. Dias antes, a 8 de Março, as mulheres que assinalaram o Dia Internacional da Mulher, reclamaram feriado nacional para a data.

“O Manual dos Inquisidores”, do escritor António Lobo Antunes vence, em França, o prémio dos livreiros e críticos literários para o melhor romance estrangeiro, dias antes de “O Paciente Inglês” conquistar nove óscares, um deles dado a Juliette Binoche (melhor actriz secundária), na noite mais famosa de Hollywood,

Pedro Bacelar Vasconcelos, Governador Civil de Braga e militante socialista, que se tornou conhecido pela firme oposição às discriminações contra ciganos, lamentou, em entrevista ao jornal “público” que alguns militantes do PS tivessem proferido, aquando do caso de Oleiros, afirmações idênticas às de Le Pen, conhecido político francês da extrema-direita racista e xenófoba.

A CGTP voltou à rua para reclamar emprego, melhores salários e um horário máximo de 40 horas de trabalho semanais. Foi em Lisboa. Mais a Norte, em Vila Franca de Xira, no Palácio do Sobralinho, o movimento do neo-realismo foi tema de um debate que durou três dias e reuniu intelectuais com posições diferenciadas sobre a matéria.

Na Albânia o Poder parece ter caido na rua. Há pilhagens em Tirana. O Conselho de Segurança da ONU pede aos responsáveis (quem são?) albaneses para cooperarem... A Itália fecha fronteiras ao desespero.

Na Palestina, Israel força a construção de novos colonatos, contra a opinião internacional, e reacende o conflito. No Zaire o espectro da guerra civil generalizada ganha contornos preocupantes. Mobutu e rebeldes tentam soluções.

Na maior associação de estudantes do país, a de Coimbra, a vedeta das eleições foi um cão que, na primeira volta, obteve 8% dos votos. Feitas as contas, tudo como dantes: o eleito não quer ouvir falar de propinas, nem que estas se ficassem por cinco tostões de mel coado. O Dia do Estudante celebrou-se a 24 de Março, data em que o Rali de Portugal saiu para a estrada.

JR


  
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Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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