Racismo: Opinião não científica sobre uma raça humana que leva a uma tomada de posição depreciativa e, frequentemente, violenta relativamente a uma colectividade. (Moderna Enciclopédia Universal, Círculo dos Leitores, 1984) Em sentido estrito, a palavra racismo serve para designar todos os comportamentos de desvalorização de outrem a pretexto da sua pertença a uma determinada raça. Isto em nome de uma pretensa hierarquização de raças e povos. Posição que alguns quiseram sustentar em bases científicas e que foi afirmada de forma dramática através de acontecimentos como o nazismo. Algumas décadas depois de Hitler, fenómenos como o racismo continuam a ensombrar a história deste século, traindo os nossos mais caros sonhos de humanidade. Sem desvalorizar o sentido estrito, de implicações demasiado sérias para serem esquecidas, utilizarei aqui o termo racismo no seu sentido mais lato, referindo-o a todo o comportamento marcado pela exclusão do outro, o diferente. A diferença assusta e incomoda porque ela representa o que nos é totalmente desconhecido e estranho. Afinal de contas ocupamos tanto do nosso tempo a afirmar uma posição no mundo, a construir defesas e a procurar consolidar certezas que ficamos desarmados perante algo que surge de fora impondo a sua exterioridade. Daí a tendência para confundir a defesa do nosso mundo com a rejeição do mundo do outro. Como se a diferença, só por si, ameaçasse a nossa própria identidade. É certo que o desenvolvimento do nosso projecto de vida, a nossa realização pessoal e social, passa pelo sentido de pertença a uma comunidade, a uma nação, a uma cultura e a uma história. Mas passa, também, pela capacidade de nos distanciarmos dela. Sem distanciamento não há crítica, mudança e renovação. Deixemo-nos pois surpreender em cada virar de esquina, alimentando assim a possibilidade de viver experiências novas e inventar um mundo mais feliz. Até porque respeitar o outro, na sua posição de outro, não significa ter de partilhar as suas ideias, nem implica a identificação com o seu modo de ser. E nunca como hoje foi tão importante promover a capacidade comunicar com outrem, promovendo o encontro e o diálogo entre pessoas, povos e culturas. O apego a um conjunto de valores não justifica a ignorância e o desrespeito de valores outros. Pelo contrário, a desvalorização do outro radica muitas vezes numa imagem negativa de nós próprios. Acontece por outro lado que o culto exarcebado da diferença pode também conduzir a algumas perversões. Um culto onde o próprio racismo se esconde muitas vezes. É no extremar de posições que a diferença produz desigualdade e injustiça. A reivindicação do direito à diferença deixa de ser democrática a partir do momento em que se prolonga numa diferença de direitos. É aqui na conquista e salvaguarda dos direitos humanos que cabe a responsabilidade de todos e de cada um. Ao enraizamento num povo, numa história, numa cultura deve corresponder a consciência de um mundo partilhado em solidariedade. É esta a preocupação que está presente no relatório para a UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI . Aí se aponta a necessidade de superar a tensão entre o global e o local de modo a que tornarmo-nos cidadãos do mundo mantendo a referência às nossas raízes. E é no seguimento desta preocupação que o aprender a viver com os outros surge evidenciado como um dos pilares fundamentais da educação para o novo século, a par do aprender a conhecer, o aprender a fazer e o aprender a ser. Sublinha-se desta forma a importância da educação enquanto utopia necessária. É, também neste sentido que, no quadro da União Europeia, o ano de 1997 é assinalado como o ano de luta contra a xenofobia e o racismo. Porque a humanidade não cabe em definições estreitas ao serviço de alguns. Porque a humanidade é um projecto comum que conta com o esforço responsável e comprometido de todos nós. Vamos, pois, fazer do ano que agora começa um ano de luta contra a exclusão, a xenofobia e o racismo. Isabel Baptista
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