Com uma nota sobre a conferência ali proferida por Elie Jouen, secretário-geral adjunto da Internacional da Educação, que também reflectiu sobre o dossier da UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO "A educação encerra um tesouro". A Internacional da Educação (IE) foi fundada em 1993 com a fusão da Confederação mundial das Organizações Profissionais do Ensino (CMOPE/WCOPT) e o Secretariado Profissional Internacional do Ensino (SPIE/IFFTU). Tem 272 sindicatos filiados que representam uns vinte e três milhões de trabalhadores e trabalhadoras do sector educativo em mais de 146 países. Mantém relações formais de associação perante a UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO e a OIT. Mesmo assim mantem contactos com organizações como a ONU, a OMS, a OCDE, o Fundo Monetário Internacional, e Banco Mundial, etc. Os objectivos da IE são: Fomentar a causa das organizações dos trabalhadores e trabalhadoras da educação, promover a condição, os interesses e o bem-estar dos seus membros assim como defender os seus direitos sindicais e profissionais. Promover a paz, a democracia, a justiça social, a igualdade e a aplicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos mediante o desenvolvimento da educação e a força colectiva dos trabalhadores e das trabalhadoras da educação. O senhor Elie Jouen é professor do ensino secundário em França e ocupou cargos de responsabilidade política na Federação da Educação Nacional em França (FEN) e no Secretariado Profissional Internacional do Ensino (SPIE) antes de assumir a Secretaria Geral Adjunta da Internacional da Educação. É responsável dos departamentos de Educação, Ocupação e Cooperação para o desenvolvimento. No âmbito das suas funções mantém relações quotidianas em assuntos educativos com organizações intergovernamentais como são a UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO, a OCDE e o Banco Mundial, realiza intensos contactos e trabalhos com países de África, América Latina, Ásia e Europa de Leste e é colaborador habitual em diversas revistas sindicais e pedagógicas. O Sindicato dos Trabalhadores do Ensino das Ilhas Baleares (STEI), membro da Confederação do STES e membro fundador da IE, quis convidar o senhor Elie Jouen a visitar o nosso país, as Ilhas Baleares, a fim de dar-lhe a conhecer a nossa realidade sindical e educativa. O senhor Jouen manteve reuniões com o conselheiro de educação da nossa comunidade autónoma e com o director provincial do MEC que lhe comunicou os objectivos da IE, o trabalho que esta organização realiza e os motivos da sua visita às Baleares. Repartiu a parte de tarde por uma conferência sobre as considerações que a IE faz do dossier da UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO da Comissão Internacional sobre a educação para o século XXI presidida por Jacques Delors: "A educação encerra um tesouro" . O senhor Jouen quis, antes de comentar a informação Delors, fazer uma série de reflexões: Destacou a perda de peso do ensino na sua relação com o tecido laboral, isto é, antes o facto de se possuir um título pesava no acesso quase imediato a um posto de trabalho, na actualidade, isto não é assim: ter um grau académico só por si não significa emprego. Aliás, a procura educativa cresce. Os jovens querem estar mais preparados para entrar em melhores condições de ingressar no mundo do trabalho. Mas a procura educativa também está relacionada com o facto de o ingresso dos jovens na vida laboral se atrasar cada vez mais. A escola converteu-se numa maneira de atrasar a procura de emprego. Informou que devido à importância que se dá à educação muitos governos já lhe atribuem seis por cento do PIB. Mas considerou que estes objectivos não podem ser indefinidamente alargados uma vez que se tem de considerar a necessidade de outras áreas sociais, como a saúde e a segurança social. Por último quis destacar as críticas que recebe o sistema educativo. Críticas que provêem das empresas, que consideram que a escola não forma de maneira adequada em relação ao mercado de trabalho e criticas também dos pais, alunos e docentes. Todas estas críticas mostram a necessidade de alterar radicalmente os sistemas educativos actuais. Todos estes considerandos levaram a UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO a criar uma comissão internacional para a educação que entregou o ano passado um dossier intitulado "A educação encerra um tesouro". O dossier consta de nove capítulos. Na opinião da IE os capítulos 4, 5 e 7 são os mais interessantes na perspectiva dos docentes. Da intervenção do senhor Jouen queremos destacar, em resumo, as seguintes observações: No capítulo 4 intitulado "Os quatro pilares da educação" sobressai que a educação se deve organizar à volta de quatro aprendizagens fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser. Aprender a conhecer Os jovens devem adquirir os instrumentos de conhecimento que lhes permita compreender o mundo que os rodeia, desenvolver as suas capacidades profissionais e comunicar e trocar opiniões com os outros. Supõe-se em definitivo aprender a aprender. Aprender a fazer Trata-se de ensinar o aluno a pôr em prática os seus conhecimentos e, ao mesmo tempo, adaptar o ensino ao futuro mercado de trabalho. O mercado de trabalho já não exige só uma qualificação determinada mas também um comportamento social responsável, aptidão para trabalhar em equipa, capacidade de iniciativa e capacidade para assumir riscos. Aprender a viver juntos Há que conceber uma educação que permita evitar os conflitos ou solucioná-los de uma maneira pacífica, fomentando o conhecimento dos outros. A educação deve ensinar a diversidade da espécie humana e deve contribuir para uma tomada de consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos. Aprender a ser O dossier assinala que neste mundo em transformação perpétua, onde há atitudes e comportamentos estandardizados, cabe assinalar que cada um tem que guardar e cultivar a sua personalidade porque a sociedade futura tem mais necessidade de pessoas que tenham talentos e personalidades diversas do que um modelo único e estandardizado de pessoa. A educação deve permitir a cada um cultivar a sua diferença. O capítulo 5 é dedicado à formação permanente. O dossier põe em evidência que a divisão tradicional da existência humana em períodos claramente separados, quer dizer, a infância e a juventude consagrada à educação escolar e a idade adulta consagrada à actividade profissional já não corresponde à vida contemporânea. Já não se pode pensar que os conhecimentos adquiridos na juventude nos vão bastar para toda a vida. É imprescindível uma actualização do saber ao longo da vida. Os avanços científicos e tecnológicos determinaram que os saberes e técnicas de cada indivíduo perdem rapidamente a vigência. A educação permanente permitirá a cada indivíduo alcançar um melhor equilíbrio entre o trabalho e a aprendizagem. A educação ao longo da vida representa também uma segunda oportunidade para aqueles que sairão da escola em situação de fracasso escolar. A execução deste conceito de educação implica alterações importantes nos sistemas educativos. É necessário pensar como abrir a escola aos adultos e como estabelecer a sua relação com programas até agora só pensados para a infância e a juventude. Relativamente ao financiamento, o dossier propõe um "crédito de tempo para a educação" que constituiria um compromisso do Estado para oferecer oportunidades educativas. O capítulo 7 é consagrado ao papel essencial que devem cumprir os docentes. O dossier assinala que para melhorar a qualidade da educação se deve melhorar a contratação, a formação, o prestígio social e as condições de trabalho dos docentes. O dossier propõe cinco recomendações para permitir aos docentes desempenhar a sua função correctamente: 1. A abertura do docente ao mundo. O desenvolvimento espectacular dos meios de comunicação dispersou a atenção dos alunos e a perda por parte dos docentes do monopólio da distribuição do saber. O docente só pode voltar a ganhar credibilidade se proporcionar aos jovens as chaves da compreensão da sociedade da informação. O docente deve abrir-se para o mundo e não pode ignorar os problemas da sociedade em que vive. 2. A profissão docente é uma das mais organizadas. É um dos sectores onde há mais filiação sindical. Convida-se os governos a ter em conta esta realidade e propõe-se que as organizações sindicais sejam estruturas iniludíveis para o diálogo entre a escola e a sociedade. Isto constitui um reconhecimento extremamente positivo da função do docente e dos seus sindicatos no âmbito das reformas educativas. 3. A necessidade de uma formação pedagógica que seja susceptível de permitir ao docente difundir uma grande quantidade de conhecimentos mas também, o convite a uma busca colectiva para encontrar respostas a problemas e interrogações. Ensinar é uma arte e uma ciência. 4. Corresponde à qualidade dos docentes. É importante que os docentes do quadro sejam os mais motivados. Para que um docente seja eficaz deve ter uma grande competência pedagógica mas também qualidades humanas como a paciência, a humildade e a tolerância. 5. Reconhece-se a necessidade permanente de actualização da formação docente. Não só em relação a conhecimento mas também em termos pedagógicos. Há que orientar a prática docente fazendo uma pedagogia interrogante, uma pedagogia de interacção que pode constituir uma base ao longo da vida. Para o senhor Jouen o dossier constitui uma análise das nossas sociedades futuras e uma busca relativa sobre a forma como se devem organizar os sistemas educativos para preparar os jovens nas sociedades em profunda transformação. O Senhor Jouen reconhece que não tem uma visão positiva sobre todos os aspectos do dossier da UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO. Mas salienta que o dossier reconhece o papel fundamental que os docentes e as suas organizações devem ter na elaboração, na definição e na aplicação das reformas da educação. Jouen considerou ainda que os docentes e as suas organizações não devem contentar-se com a melhoria das condições laborais mas devem também ser exigentes no que respeita à implantação das reformas educativas. Finalmente o Senhor Jouen convidou todas as organizações sindicais do mundo a estudar o dossier e a apresentar propostas que sejam oportunas e capazes de contribuir o actual estado da educação nos seus países e no mundo.
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