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cultura inculta

Em anterior número de a Página, o actor Júlio Cardoso da SEIVA TRUPE, referia-se ao actual momento histórico como um momento de cultura inculta. Não seria mau se meditássemos um pouco na profundidade que esta expressão encerra.

Definir cultura não é uma tarefa fácil. Talvez convenha seguir o método provisório de interrogação, a saber:

- Os anos 90 trouxeram algo de novo na cultura?

- Não estará a trivialidade instalada no quotidiano?

- Não teremos consequentemente que abordar teoricamente a questão do “quotidiano” como um “locus” residual (abaixo do qual não é possível descer) ?

A definição de cultura complica-se. Para Júlio Cardoso, o teatro é um local privilegiado de formação. Não poderíamos vislumbrar aqui uma hipótese de definição, ou seja, a ligação de dois termos: cultura e participação?

Do mesmo modo a música. A música é também um local privilegiado de formação (melodia, harmonia e ritmo) e também nos envia para a participação.

A terem algum fundamento estas proposições, como se posiciona a escola? Não seria um local privilegiado de formação?

Júlio Cardoso diz: “Vejo a questão do ensino tão grave que não sendo um homem velho, a solução não será para os meus dias... As escolas andam sequiosas de animação socio-cultural, mas não há animadores...”.

Por parte do Ministério da Educação repetem- se as declarações sobre a reforma do ensino; mas, alguém, algum dia acreditou que pudesse haver alguma reforma? Nunca haverá um ministro da educação, um único, jamais em tempo algum que possa subsistir no interior de um governo cujo objectivo seja essencialmente a recuperação do grande capital.

Cultura, formação, arte, formação pela arte e capitalismo não casam. Não há paixão que resista. Voltemos ao início: vai por aí um frenesim de fazer, mas por via administrativa. Não estaremos a viver um tempo de trivialidade, de equívocos que é o mesmo que dizer de cultura inculta? Se assim for, uma dura tarefa nos espera: nada de novo se criará enquanto nos afundarmos na placidez do quotidiano. E não estará este orientado para a placidez?

Guilhermino Monteiro


  
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Autoria:

Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia
Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia

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