É, de qualquer modo, surpreendente (esta expressão "de qualquer modo" revela, no mímimo, mau conhecimento por parte do articulista, da história dos Gambozinos), o resultado obtido pelo BANDO DOS GAMBOZINOS no disco de Lopes-Graça. A verdade é que o nome deste compositor ainda intimida muita gente. Conhecemos muito bem as dificuldades, por exemplo, dos grupos corais em interpretar as suas obras. E, para os menos entendidos nestas coisas da composição, convém esclarecer que a música de Lopes-Graça se se pode entender dentro dos parâmetros do que se convencionou apelidar de "música clássica", também não se pode entender e compreender só com os ouvidos de quem apenas ouve Mozart ou Beethoven, ou Brahms, etc. Assim, o ouvinte pode ficar surprendido. Porque o ouvido também se surpreende! E neste disco quem canta são crianças. Aqui, a crónica poderia derivar para outro tema, a saber: a Educação Musical, de resto, problema múltiplas vezes abordado por Lopes-Graça. Digamos apenas que, pese embora o extraordinário trabalho dos professores do Ensino Básico, muita coisa continua por resolver. Mas, esta seria outra história e muito longa. Justifica-se assim a minha expressão inicial ao ouvir AS CANÇÕEZINHAS DA TILA pelo BANDO DOS GAMBOZINOS. Conclusão: é notável o trabalho das crianças e da sua directora Suzana Ralha. Os textos são de Matilde Rosa Araújo e é do Livro "O Cantar da Tila" este poema. As cigarras abrem, livres, sobre as flores Os seus caderninhos de poetas; E as formigas carregadas de embrulhos, silenciosas, Metem-se pela terra húmida Vindas da cooperativa das formigas trabalhadoras. Tudo isto sem fábulas, sem fome, sem lições de moral. Noite: dá-me um dedo de cristal muito fino Para tocar este concerto no pianinho das minhas bonecas! Guilhermino Monteiro
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