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Esquerdas Alternativas: Política XXI - Unir Ideias para Transformar o Futuro

Rompendo com o cerco das organizações partidárias tradicionais, a Política XXI assume-se essencialmente como um partido onde o movimento cívico e o debate de ideias se revelam como vector fundamental da sua linha de orientação. Um debate onde caibam não só as questões levantadas em torno de temas sociais, como a cidadania na nova Europa, o multiracialismo, a exclusão ou o desemprego, alargando esse âmbito para a educação, a ecologia ou o património. Ideias que induzam a uma reflexão geral mais atenta e mobilizem as pessoas. Afinal, 'acrescentar um pouco de esquerda à esquerda'.

Ferreira Santos, membro do núcleo portuense da Política XXI, é peremptório: 'não temos ambições de poder ou sonhos em fazer uma revolução'. Talvez não. O conceito mais correcto, porventura, será 'transformação', de atitudes e pensamentos. Uma imagem que serve igualmente para descrever o aparecimento daquele que continua a ser um partido pouco conhecido para grande parte dos portugueses.

Tudo começou há cerca de cinco anos, quando dissidências nos dois principais partidos de esquerda portugueses levaram à formação da Plataforma de Esquerda e à publicação do jornal 'Manifesto', ponto de encontro de opiniões. Depois desse passo, e quando se avolumava a necessidade de intervir de uma forma mais directa na vida política, o Movimento Democrático Português (MDP/CDE) dá lugar a uma nova força, cuja designação se baseia numa política humanista orientada para o século XXI. 'Acho que nenhum outro partido teria aceite rejuvenescer desta maneira', considera.

Apesar da estrutura partidária não estar ainda suficientemente implantada para traçar objectivos de grande amplitude, acredita na possibilidade de resultados positivos nas eleições autárquicas de Dezembro: a obtenção de um lugar pelo círculo da capital, através da aliança estabelecida com o Partido Socialista Revolucionário, que integra também o Porto, denominada Esquerdas Unidas; e a conquista da presidência da câmara de Fafe, onde concorre isoladamente. Um trunfo tornado possível pela candidatura independente de Parcídeo Summavielle, actual autarca eleito pelo Partido Socialista. Uma individualidade que merece a confiança política por parte do partido, quer pelo trabalho desenvolvido à frente do concelho quer pela coerência do seu percurso ideário e democrático.

Estas admissíveis vitórias não encerram, porém, o principal motivo da participação no acto eleitoral. Mais do que a conquista de lugares, interessa à Política XXI representar um contra-poder e dar a conhecer novas propostas políticas, de forma a inverter o actual desinteresse das pessoas pela política.

A pequena política, ou 'politiquice', como prefere chamar Ferreira Santos, é considerada como uma das principais causas para esse afastamento, sendo disso reflexo a atitude de crescente alheamento dos mais jovens em relação a temas de interesse nacional e que, de uma forma ou outra, vão determinar o seu futuro'. Considera urgente, por isso, lançar para debate público questões concretas, que afectam as pessoas e se relacionam com a sua qualidade de vida'.

Esse é precisamente um dos motivos porque a Educação assume um papel prioritário para a Política XXI. Reclamando não só um maior investimento nos recursos humanos e nas infraestruturas postas ao serviço do ensino, considera indispensável alterar a atitude face à aprendizagem e preparação para a vida activa, directa ou indirectamente orientada para valores de competitividade e de sucesso material. Antes de mais, é preciso que a escola avance para uma formação baseada no indivíduo e na valorização das suas capacidades'.

 

Uma Europa dos Povos

Uma das características que melhor poderá distinguir a postura da Política XXI face aos demais partidos será a não existência de uma estrutura hierárquica rígida e de posições políticas uniformizadas. 'Um partido sem Deus nem chefes', ironiza Ferreira Santos. A organização interna da Política XXI é coordenada por um órgão de articulação nacional e constituída por núcleos em algumas das principais cidades do país. Sem assumir propriamente uma direcção representativa, à imagem do que acontece noutros partidos, esse órgão coordenador assume-se como a sua voz e fala em nome do 'grupo de pessoas da Política XXI', explica.

Para isso, as posições públicas do partido são tomadas mediante uma discussão prévia, durante a qual se vão construindo posições, algumas delas não coincidentes. Nada, no entanto, que impeça o trabalho em conjunto e uma mesma convicção na defesa das causas. Professores, estudantes, comerciantes, jornalistas, empresários, pessoas sem qualquer experiência ou filiação partidária anterior, fazem parte desse universo, cujo denominador comum é 'a necessidade de unir ideias e intervir activamente'.

Nesse sentido, foram apresentadas no ano passado propostas de alteração à Constituição dirigidas aos grupos parlamentares com assento na Assembleia da República. Dessa iniciativa, constam temas como a redução, para 35 anos, da idade mínima de candidatura à Presidência da República e o alargamento da idade de voto para os 16 anos, uma medida que, no seu entender, poderia contribuir para suscitar uma maior carga de responsabilização nos jovens e um consequente interesse pela política, A discussão destas duas propostas no parlamento nunca chegou sequer a ser agendada.

No que diz respeito à Europa, existem duas ideias bastante consensuais no interior do partido.

Uma é a que propõe a constituição de um Fórum das Nacionalidades no âmbito das instâncias comunitárias, enquanto órgão consultivo e representativo dos povos europeus. Rejeitando o conceito de Europa gerida por governos e poderosas instituições financeiras, onde alguns países possuem maior poder de decisão em relação a outros, a Política XXI defende o confronto de opiniões e diferenças como factor de coesão do espaço europeu e de maior conhecimento mútuo.

Outra das propostas diz respeito à imposição de uma sanção penalizadora a produtos comerciais provenientes de países onde os direitos humanos e os do trabalho não são respeitados, através de uma taxa aduaneira, servindo de elemento de pressão sobre os governos. 'Mau grado as repercussões negativas que essa medida traria aos trabalhadores, estou convencido que as posições, mais tarde ou mais cedo, teriam de mudar'.

De forma a coordenar estas e outras propostas com outras organizações de esquerda europeias, a Política XXI organizou, em 1995, no Algarve, o primeiro Encontro Internacional para uma Nova Esquerda. A iniciativa, que contou com a participação de associações e movimentos provenientes de países como Espanha, Itália, Inglaterra ou França, e da participação do então candidato à presidência da República, Jorge Sampaio, não obteve, no entanto, qualquer cobertura mediática. Nada a que a Política XXI não esteja já habituada, mas que começa a tornar-se uma espécie de 'tradição', no pior sentido.

Ricardo Jorge Costa


  
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Autoria:

Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação
Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação

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