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"Duetos"

Encontro-me sentado no sofá, acabei de ligar a Televisão, mudei para o "dois". Estão a transmitir um concerto musical. Resolvo ouvir. Trata-se de um trio. O que tocam não é bem jazz, mas no máximo essa modalidade a que chamam "fusão", pois trata-se de uma fusão entre aspectos musicais tipicamente "jazzisticos" e a "Pop music". Contudo a musica soa-me bem e parece ser de qualidade excelente, doutra forma não conseguia ficar como que petrificado em frente ao écran, e já tinha "zapado" para outro lado como é costume quando dá "Top's +" e afins.

Identifico um músico, trata-se de Jean-Luc Ponti, talvez o mais virtuoso dos violinistas de jazz. Os outros um contrabaixo e um guitarrista são-me de momento desconhecidos.

É espantosa a facilidade com que desencadeiam os diálogos de autêntico improviso melódico entre si, e fazem-no, providos de uma enorme beleza e espectaculosidade. Nunca ouvi nada assim.

A situação traz-me à lembrança um pequeno diálogo que tive faz agora cerca de um ano com o Juvenal, durante uma visita de estudo às grutas de " Mira de Aire ".

O Juvenal era uma aluno do 7ºAno, extremamente interessado. Preparou-se para a viagem e fez uma revisão aos conceitos relativos às paisagens a visitar (algares, grutas, estalactites, et.).

Durante a viagem ele, ávido de conhecimento pôs-se a falar no assunto colocando-me sucessivas questões sobre o que ia observando. Aceitei o desafio, "peguei num instrumento, sempre uma guitarra" e, inicialmente comecei por responder de forma a que não saísse da melodia previamente estudada pelo Juvenal. Progressivamente fui transformando cada resposta num desafio novo e mais complexo para o aluno.

É óbvio que o conteúdo do diálogo (discussão) não podia atingir grande complexidade, quais Jean Luc Ponti, A1 Di Meola e Stanley Clarck (do trio " The Rite of Strings ", entretanto consultara o jornal), embora não menos apaixonante.

O Juvenal, por muito que fosse o seu virtuosismo e interesse, era só uma iniciado às ciências e muitos dos problemas colocados exigiam por exemplo, conhecimentos de química e de fisica, que ele não possuia. Tendo em conta isso fui procurando colocar os problemas de forma a que ele conseguisse entender e arranjasse uma resolução.

No entanto, não sendo estes fáceis, fui certificando sempre de que estariam ao seu alcance. Nunca saiu do tom, ou mesmo quebrou a estrutura melódica.

Eu estava contente, e sentia orgulho naquele aluno, os seus raciocínios não se limitavam a reproduzir uma sequência de acordes previamente estudada, mas eram capazes de criar soluções lógicas e inovadoras para os problemas que lhe ia propondo.

É nestes momentos que um professor sente que alcançou um pedaço da sua realização, ocorram eles numa conversa informal durante um passeio, ou mesmo dentro da sala de aula.

Discutir os problemas científicos com pessoas dotadas de igual ou superior bagagem de conhecimentos, embora também dê algum prazer torna-se bastante mais fácil, mas a realização de um professor vai mais além. O objectivo do seu trabalho só é alcançado quando os alunos são capazes de processar logicamente os conhecimentos obtidos de forma a enfrentar situações novas.

Gostaria de saber qual será a sensação do Sr. A1 Di Meola ( o guitarrista ) quando algum aprendiz o consegue acompanhar nas suas divagações jazzisticas.

Arlindo Antunes de Sousa


  
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Arlindo Antunes de Sousa

Arlindo Antunes de Sousa

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