Nós somos culpados, de ter hospedado recentemente estrangeiros em situação irregular. Não denunciamos os nossos amigos estrangeiros. E continuaremos a receber, a não denunciar, a simpatizar e a trabalhar sem verificar os papéis dos nossos colegas e amigos. Depois do julgamento de Mme Jacqueline Deltombe em 4 de Fevereiro de 1997, e de ser considerada culpada de ter hospedado um amigo Zairense em situação irregular, e partindo do princípio que a lei é igual para todos, nós pedimos para ser levados a julgamento também. Enfim, pedimos aos nossos concidadãos que desobedeçam, que não se submetam a leis inumanas. Recusamos que as nossas liberdades se vejam assim restringidas... LAppel des 66 Foi a iniciativa de cineastas que fez arrancar o movimento de protesto contra o projecto de lei Debré sobre a emigração. Uma primeira lista de 66 nomes deu a cara através de uma petição e, depois, o movimento tomou as proporções que se conhece. Para recusar firmemente a delação. Uma grande parte do jovem cinema francês figurava nessa primeira lista, fazendo prova de iniciativa e indignação, mas também duma presença original no debate público. Sem querer atenuar o efeito de surpresa devido à iniciativa colectiva, esta, aparece como lógica. Bastava estar atento à evolução do cinema francês, nos últimos anos, para constatar que por cada cineasta, apesar da diversidade de estilos e de talento, a preocupação social e política faz parte do seu projecto estético. A crise dos tipos de vida citadinos, a mestiçagem cultural e musical, a tomada de consciência do Outro, um sentido real de alteridade, a recusa da moral maioritária, tudo isto constitui um estado de espírito que atravessa o cinema francês da nova geração. Não apercebidos através do filtro sociológico, longe de serem veiculados por um qualquer sentido do dever, estes temas constituem pelo contrário o terreno da ficção. Muito para lá das outras artes, de todas as práticas artísticas, o Cinema, mais que o romance, a pintura, teatro, etc., está sobre a realidade do nosso tempo. No fundo o Appel des 66 é talvez o ponto visível duma sensibilidade política que só pedia para aparecer à luz do dia. Paulo Teixeira de Sousa
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