Oficialmente, para o 1º Ciclo do Ensino Básico ( ex-Primário ), o Ano Escolar começa no dia 1 de Setembro. Seria suposto que nesta data todos os docentes deste grau de ensino se encontrassem colocados nas respectivas Escolas a trabalhar no seu Projecto Educativo. É que com a Educação dum povo não se deveria brincar. Mas uns são filhos e outros são enteados. A democracia tem as suas contradições. Isto acontecia no tempo da ' Outra Senhora '. Agora é bem diferente. E 23 anos é demasiado tempo. As causas são múltiplas e variadas. São os Encarregados de Educação que por diversas razões não fazem pressão junto do poder político ( onde param por exemplo as Federações das Associações de Pais e Encarregados de Educação ? ), é o Ministério da Educação que tomando decisões na 5 de Outubro desconhece o país real ( aí regionalização que tão mal tratada tens sido! ), são os professores que passiva e provavelmente não querem alterar a situação e por fim os sindicatos que relegam o assunto para as calendas gregas, não lhe dando o devido relevo que merece e até certos interesses corporativos instalados que não mexem uma palha. Julgo ter contribuído bastante para que a situação seja alterada. Quer sensibilizando os Encarregados de Educação, o actual Ministro da Educação e até os sindicatos representantes da classe. Os Encarregados de Educação não têm ainda a noção do poder que possuem, o Ministro diz-me que estão no terreno com experiências nas diversas Direcções Regionais e os sindicatos provavelmente são coerentes com a linha de pensamento dos respectivos sócios. E hoje constato com grande tristeza que muitos professores dos diversos Quadros Distritais de Vinculação não querem a estabilidade profissional. Pois caro leitor, se é Encarregado de Educação de um aluno que frequenta o 1º Ciclo do Ensino Básico fique a saber que cerca de 20.000 professores ( cerca de 50% ) aos quais o Estado paga milhares de contos todos os meses vão saber lá para meados de Setembro, com as aulas a começarem entre 15 e 19 de Setembro, a escola e a turma com a qual irão trabalhar no próximo ano lectivo 1997/98. E como o 1º Ciclo do Ensino Básico funciona em regime de monodocência está provado que a não existir estabilidade do corpo docente nas escolas do 1º C.E.B. não haverá: a. Uma completa relação pedagógica entre o aluno e o professor; b. Uma equipa pedagógica coesa; c. Estabilidade emocional do aluno e professor; d. Uma maior responsabilização profissional; e. Completo sucesso escolar do aluno ( aqui ainda há 10% de chumbos ) f. Professores para leccionar neste sector, como acontece neste momento nos Estados Unidos em que não há professores suficientes para começar o ano lectivo. E como o pior cego é aquele que não quer ver, aí temos a verdade dos factos. Um estudo encomendado pela OCDE ao Instituto de Inovação Educacional prova tudo o que se disse atrás. Refere o documento que ' existe estabilidade do corpo docente quando 75% dos professores se encontram a leccionar na mesma Escola há 5 ou mais anos. ' Mais de 50% dos alunos beneficiam deste factor na maior parte dos países da União Europeia. As excepções para não variar são a Grécia e Portugal onde a percentagem nos diversos graus de ensino é de 24% em relação à estabilidade do corpo docente. No 1º Ciclo do Ensino Básico a situação agudizasse. Aqui apenas 26,4% dos alunos estão em Escolas onde 75% dos professores exercem funções lectivas há mais de 5 anos. A investigação ' sobre as escolas eficazes põe em destaque a importância da constituição de equipas estáveis e coesas de docentes para a construção de um clima coerente e consistente '. Afirmando ainda que ' tem sido reconhecido que a sequencialidade das aprendizagens e o desenvolvimento emocional e afectivo dos alunos são afectados pela instabilidade dos professores '. Será seguramente por esta vertente (que não tem gastos suplementares) que a nossa profissão será mais dignificada e reconhecida socialmente. O jornal 'O Público' de 27 de Agosto chamava-nos e com razão 'Os caixeiros viajantes' ou 'Professores caracol'. O que estão à espera Srs. Encarregados de Educação, Sr. Ministro da Educação, Srs. Sindicatos? Até quando perdurará nos nossos espíritos o velho ditado português: Foi assim, assim é e será sempre assim. E nós docentes, o que fizemos para que isto se altere? Um punhado de nada. O professor do Quadro Distrital de Vinculação de Aveiro: José Agostinho Nunes Lázaro, 18 anos de serviço e 17 escolas no currículo.
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