Exmo. Senhor Director de 'A Página'

Ao abrigo do direito de resposta (Lei da Comunicação Social), agradeço que seja incluída no vosso próximo jornal a minha opinião sobre os artigos do Sr. José Pacheco:

'Escola inclusiva educação especial'

'inclusões'

O primeiro artigo sobre o assunto já tinha muito que se lhe dissesse.

A coberto de apoios educativos que não são devidamente definidos em parte nenhuma do artigo, tenta-se, de uma maneira depreciativa, atacar a educação especial, denominando mesmo os seus profissionais de 'professores especiais'.

Em todas as profissões há especialistas. Ninguém se atreveria a denominar um médico especialista em cardiologia ou ortopedia ou um advogado criminalista de médico ou advogado especial!

Em educação vale tudo...

Em educação e sobretudo no 1º Ciclo, alguns professores acham que são os detentores de todo o saber e por isso mesmo encontramos alunos surdos que não foram desmutizados em tempo útil e a quem não foi ensinada linguagem gestual, a não conseguirem prosseguir estudos ou serem integrados no mundo do trabalho.

Mas estes só estão no ensino regular porque a Declaração de Salamanca não foi cumprida pois nada os obrigava a estarem em escolas inclusivas. Podem não ser integrados mas terem escolas próprias, uma vez que 'são estrangeiros' dentro da sua comunidade. Tem a sua própria língua.

Com os cegos passam-se situações idênticas, se não lhes forem dadas atempadamente técnicas de braille, mobilidade e postura corporal.

É engraçado ouvir-se dizer que uma criança com trissomia XXI, vulgo ëmongolóideí, teve aproveitamento no 9º ano de escolaridade porque conseguiu apertar os atacadores dos sapatos! Não seria muito mais útil a esta criança dar-lhe uns sapatos de pala e ensinar-lhe a cumprir outras tarefas da vida diária que a preparasse para se sentir útil e feliz?

Em educação, cada dia que se perde nunca mais se recupera e por isso mesmo é feita uma avaliação criteriosa de todas as faculdades da criança ou jovens e se propõe um Plano Educativo que, baseado nos pontos fortes do aluno, lhe desenvolva as outras capacidades sem que ele se sinta diminuído. Aqui têm um papel fundamental os seus companheiros escolares.

Este projecto de trabalho é feito em colaboração com os pais, os professores de ensino regular e especial e é para ser cumprido por todos. Não é um projecto rígido, mas que está sempre a ser avaliado e corrigido conforme as necessidades da criança.

Claro que se preenchem papéis, pois só com registos diários se pode fazer o ponto da situação, tendo em conta a evolução ou o retrocesso da criança.

Os professores e educadores trabalham no terreno e como todos também têm muitas dúvidas quanto ao seu trabalho que só conseguem resolver em conversas com os seus pares, conversas tidas em reuniões sérias coordenadas por técnicos que não são 'ociosos'.

Mas como nunca o invejoso medrou... é bom explicar a razão da redução do horário.

Um docente de educação especial além de ter muitas vezes que atender alunos de mais do que uma escola, tem que adaptar o seu trabalho às características de vários professores e muitos mais pais.

Este trabalho é desgastante e obriga muitas vezes a outros contactos, como com os Serviços de Saúde, Assistência Social e, até, de integração no mundo do trabalho. Cada grupo funcional de docentes tem o seu próprio horário.

Porque se preocupam tanto com o horário de 20 horas da educação especial e ninguém se importa que o professor do Ensino Secundário tenha as mesmas 20 horas, mas se tiver também o 3º Ciclo tem que fazer 22 horas?

A Educação Especial é transversal a todos os sectores de ensino, desde o Pré-Escolar até ao Superior, passando pelo Ensino Profissional, faz parte integrante deles todos e não precisa de ser um 'sector' referido de forma pejorativa para ter existência legal e os seus docentes serem especialistas.

Teresa Maia Mendes

NOTA: Não são feitas citações

pois essas costumam ser o suporte de quem não consegue criar opinião.