Página  >  Edições  >  N.º 99  >  Índios reivindicam direitos

Índios reivindicam direitos

(AFP.html">AFP)

Ano novo, velhos desafios: os mais de 220 povos indígenas brasileiros irão continuar a lutar no terceiro milénio - segundo a cronologia dos brancos - pela demarcação das suas suas terras e pelo respeito à sua cultura, mas têm confiança em conquistar os seus direitos para viver dignamente como cidadãos.

O final do século XX marcou o nascimento da consciência indígena: representantes dos 330.000 índios brasileiros foram capazes de se organizar e reunir para reivindicar terra, respeito e dignidade, aproveitando as comemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses ao país. Além disso, pela primeira vez, 90 indígenas foram eleitos nas eleições municipais e pediram ao governo brasileiro as liberdades que os outros cidadãos desfrutam.

"O nosso maior desafio neste novo milénio será o de garantir as nossas terras e defendê-las dos invasores. Quem invade uma terra indígena não só toma o solo, mas sim todo o seu poder para transformá-lo num valor de mercado", declarou à AFP Marcos Terena, membro da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), de cariz estatal.

Segundo diversas organizações indígenas, existem 739 reservas no país, que no total ocupam mais de um milhão de km2 e 12,26% do território nacional. Somente metade delas foram demarcadas até agora, apesar de a Constituição Brasileira de 1988 ter previsto que em 1993 todas as áreas estariam registadas.

Segundo o Conselho Indígena Missionário (CIMI, ligado à Igreja Católica), nos próximos anos a situação mais alarmante irá acontecer na Amazónia, onde os índios terão de defender sua terra da avidez dos madeireros, caçadores de ouro, pastores da igreja ou biólogos, ansiosos por roubar os seus tesouros naturais e poções medicinais. No centro do país, principalmente no Estado do Mato Grosso, a maior ameaça serão os latifundiários, que consideram as reservas indígenas como parte das suas propriedades.

No caso das dezenas de índios da Amazónia que ainda não tiveram contacto com o homem branco, o grande desafio da FUNAI será "localizá-los e defendê-los, de preferência sem estabelecer contacto com eles, da crescente ocupação da selva que os faz correr um sério risco", segundo declararam dirigentes da Fundação.

"Nós fomos ricos porque vivíamos sem fome nem violência, mas ficamos pobres, miseráveis e dependentes de nossos colonizadores", lamenta Marcos Terena.

Por último, representantes de organizações indígenas reivindicam que a globalização política e económica se estenda também ao campo social e que os governos latino-americanos elaborem projectos de educação, saúde ou integração para "índios irmãos" separados por fronteiras e que sofrem os mesmos problemas.

"Fala-se do Mercosul, de ampliar as relações económicas, mas ninguém fala, por exemplo, que os índios guaranis estão presentes no Paraguai, Argentina, Bolívia e Brasil".

Todos os direitos de reprodução e de representação reservados.
@ 1999 Agence France-Presse

AFP.html">sobre @ da Agence France-Presse


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 99
Ano 10, Fevereiro 2001

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo