A educação, a formação e a investigação ? a ciência e a tecnologia, num sentido mais lato ?, são as grandes apostas para o futuro. É esta a opinião do Nobel da Química de 1987. Jean-Marie Lehn considera, nesta perspectiva, que, mesmo perante as dúvidas levantadas sobre alguns domínios da investigação, a ciência tem de avançar, sendo essa a sua responsabilidade.
Numa conferência que decorreu em Lisboa, subordinada ao tema "Ciência e Sociedade", aquele membro do Collège de France explicou que "uma nova tecnologia, que a determinado momento pode parecer agressiva, vem mais tarde a revelar-se de grande utilidade prática" ? citou, a título de exemplo, o caso do laser, que surgiu como um produto da imaginação dos físicos e que, entretanto, adquiriu uma importância vital em domínios como a óptica, a astronomia ou a microcirurgia.
Outra inovação científica que tem sido acolhida com reservas é a manipulação genética, embora sem razão, segundo Lehn: "As substâncias naturais podem ser tão ou mais tóxicas e contaminantes do que os organismos geneticamente modificados, muitas vezes mais puros e controlados". Assim, e de acordo com o investigador francês, a sociedade tem de aprender a distinguir os perigos reais dos riscos secundários e imaginários ? clarificação em que os media têm uma palavra a dizer.
Lehn considera, por outro lado, ser essencial distinguir a invenção (propriamente dita) do posterior uso que lhe é conferido, muitas vezes sujeito a condicionantes políticas e económicas. Quanto à ética, que muitos consideram dever regular a ciência, trata-se de algo "relativo, que varia conforme o momento e o local".
O homem de ciência tem como responsabilidade primeira apenas a verdade, considera Lehn, que realça a necessidade de confiar em profissionais competentes (os cientistas) e deixa no ar uma questão pertinente: "Gostaríamos que a escolha do piloto que conduz o nosso avião fosse uma decisão democrática, tomada entre todos os passageiros?".