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Oedipus Tex

Oliver Stone é, sem dúvida, o mais controverso realizador dos realizadores de Hollywood da actualidade e um dos poucos que fez filmes consistentes sobre temas políticos.
O seu último filme, W, foi estreado nos Estados Unidos no dia 17 de Outubro. Considerando que a rodagem começou em Maio, é um milagre que esteja pronto para coincidir com a campanha presidencial. Mas, claro, a oportunidade é tudo. "Qualquer que seja a nossa opinião sobre George W. Bush," diz Stone, " a essência de W é questionarmo-nos sobre a natureza da nossa presidência, o que aconteceu, e quem é aquele homem".
W é a terceira "biopic" de Stone sobre um Presidente, depois de JFK, nomeado para os Óscares em 1991, e de Nixon, em 1995. Ao descrever uma personalidade com tantas facetas - a do estudante de Yale e Harvard, do homem do petróleo do Texas, do bêbado, do evangelista convertido ?, Stone pergunta como é que este tipo, considerado a ovelha negra da família, se transformou no homem mais poderoso do mundo.
Como em muitos dos filmes de Oliver Stone, entre os quais o oscarizado Platoon, a sombra de Freud paira sobre W: o realizador vê "uma fascinante história de pai e filho" no centro deste conto de um homem e seus demónios, à sombra do seu pai. Descobre Deus e dá uma grande volta na sua vida que o há-de levar à Casa Branca. "Durante anos pensei que fosse mais uma história de mãe e filho," diz Stone "mas quanto mais pesquisava, mais me convencia que o pai tinha um papel mais importante".
É uma história antiga, a maneira como Stone a vê: "a relação pai e filho vem desde os gregos, é uma fonte inesgotável. As omissões do pai são revistas pelo filho, e de certo modo, tornam-se nos pecados do filho".
Com o argumentista Stanley Weiser, seu colaborador em Wall Street, Oliver Stone dividiu a história em três partes. Ele descreve: " 1º Acto - As sementes da rebeldia juvenil. Bush torna-se um falhado em todas empresas onde se mete até aos 40 anos. 2º Acto - A sua conversão ao Evangelismo. A modificação dos seus hábitos, a imposição da sua vontade, quando se torna dono de uma equipa de «baseball», e os seus dois mandatos como governador do Texas. 3º Acto - A presidência. Mas não procuramos cobrir os oito anos. Concentramo-nos no início e no ano e meio crucial entre Outubro de 2001 e Março de 2003, quando ele finalmente foi para a guerra no Iraque."
Para protagonista, Stone estava determinado em Josh Brolin. " Josh era um tipo mais ou menos desconhecido, que de repente se tornou uma estrela devido a No Coutry for Old Man e outros filmes," diz. "E há algumas intrigantes coincidências entre ele e Bush. Como filho de uma estrela de Hollywood (James Brolin) Josh cresceu com um pai forte na ribalta: teve uma vida volátil e passou por muitas das crises de Bush."
"Josh tinha 40 anos quando protagonizou o filme, na mesma idade da reviravolta da vida de Bush e, vinha de uma zona da Califórnia, parecida com a "small-town" América que Bush cultivava em Crawford, Texas"
No início, Brolin recusou. "O facto de Oliver ver uma relação entre mim e Bush pareceu-me insultuoso!" diz, mas depois de ver o argumento sentiu-se mesmo "atraído, comovido e mesmo triste com ele".
" Filmámos no Sul e muita gente que encontrámos era pró-Bush," lembra Stone. "Quando lhes perguntávamos porque tinham votado nele, diziam três coisas: fé, família e amizade. Achavam que ele era um bom marido e isso era muito importante para eles, particularmente depois dos escândalos de Clinton. Stone vê em Bush "um presidente tipo John Wayne, a maneira como anda e fala é como se fosse um cowboy. Pode ser engraçado, desastrado, pateta. Quando entra numa sala e se foca em ti, podes ser seduzido por ele. A esse nível pode ser um excelente político, melhor que o pai. É capaz de seduzir multidões".
Stone insiste que o filme não é uma acusação ou elogio de Bush." Tentamos mostrar que as suas razões para a guerra do Iraque foram em função da sua história pessoal. Espero que as pessoas, quando saírem do filme, possam dizer, "Posso não concordar ou não gostar do resultado, mas compreendo."

Nota: Todas as citações de Oliver Stone foram retiradas de uma entrevista sua ao Financial Times de 18 de Outubro

P.S. De 3 a 7 de Novembro vai decorrer na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, a 5ª Edição da Fotografia e Cinema Documental. Muito cinema Masterclasses e muito mais. Presenças de Manoel Oliveira, António Pedro Vasconcelos, José Manuel Costa, entre outros, apenas para falar dos portugueses. A entrada é livre e as escolas serão bem-vindas ? a não perder, claro!!!

Paulo Teixeira de Sousa


  
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Edição:

N.º 183
Ano 17, Novembro 2008

Autoria:

Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto
Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto

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