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Vitória dos maquinistas alemães abala o modelo sindical do pós-guerra

Depois de 10 meses de greve, o pequeno sindicato dos maquinistas de comboios alemães (GDL) conseguiu a sua própria convenção colectiva, separadamente dos outros ferroviários, abalando assim o modelo sindical da Alemanha do pós-guerra.
Os últimos detalhes serão ainda para negociar, mas o conflito com a companhia ferroviária Deutsche Bahn (DB) acabou em Janeiro, acabando com a ameaça de continuação da greve. A maior parte dos analistas reconheceu a vitória do GDL, o mais antigo sindicato da Alemanha, que obrigou a poderosa DB a aceitar negociações com condições específicas dos maquinistas, com aumentos salariais substanciais de 11 por cento este ano. Para Holger Lengfel, professor de sociologia da Universidade de Hagen, esta greve marcará um momento histórico nas relações de trabalho da Alemanha.
Ao obter a sua própria convenção colectiva, "os maquinistas derrubaram um pilar da política salarial alemã", ou seja, apenas um sindicato por empresa, já que (como nesse caso) os funcionários são maquinistas e demais trabalhadores ferroviários. Ao contrário do que acontece noutros países da Europa, os sindicatos alemães têm uma ampla base e funcionam segundo um consenso pelo qual os salários mais baixos aumentam mais do que os mais altos, explica Reinhard Selten, prémio Nobel de Economia. Daí vêm as críticas feitas ao GDL, por fragilizar a solidariedade entre os trabalhadores.
A Confederação de Sindicatos da Alemanha (DGB) criticou reiteradas vezes as reivindicações autonomistas do GDL e insistiu na unidade das convenções colectivas. Michael Sommer, presidente da DGB, lembrou que este princípio de solidariedade foi imposto depois da Segunda Guerra Mundial para criar sindicatos amplos e poderosos. Os seus predecessores, mais corporativistas, foram incapazes de se opor aos nazis.
Este foi um elemento-chave da reconstrução e do "milagre económico alemão", assegurando ao patronato a previsibilidade dos custos do trabalho e a paz social quando se concluía uma convenção colectiva por empresa ou por sector. Mas os maquinistas não são os primeiros a quebrar esta bela harmonia. Os pilotos de avião, do sindicato Cockpit, romperam as fileiras em 2001, seguidos pelos controladores aéreos em 2006 e pelos médicos da Federação Marburger Bund. Estes pequenos sindicatos são criados por profissionais que têm a impressão de não serem suficientemente reconhecidos ou mal remunerados, explica Lengfel. Os grandes sindicatos como Verdi (serviços) e IG Metall (metalurgia e electrotécnica) são "máquinas niveladoras de salários". O fenómeno coincide com uma diminuição do número de filiados das grandes centrais. O DGB, que reúne a Verdi e a IG Metall entre muitos sindicatos, perdeu 40 por cento dos seus membros entre 1991 e 2007.
A desregulamentação do mercado de trabalho nos últimos 15 anos tornou a luta sindical mais legítima. O patronato exige dos trabalhadores mais flexibilidade nos salários e na jornada de trabalho.

AFP


  
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Edição:

N.º 175
Ano 17, Fevereiro 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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