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As metamorfoses dos professores

São conhecidas as "fases de Huberman" e as "fases de Feiman" relativamente ao ciclo de vida profissional dos professores. Ao analisar esses percursos, quase que inconscientemente, me coloco de imediato na fase que corresponde aos anos de serviço e idade que possuo. Nas outras fases relacionava-as com colegas que conheço tentando perceber as suas motivações, pois, como refere Bourdieu (1992, cit. Vieira, 1999, p. 79), "(...) nunca parei de me tomar como objecto, não no sentido narcísico, mas enquanto representante de uma categoria (?) na medida em que analiso categorias às quais eu pertenço; logo, falando de mim mesmo, eu digo a verdade dos outros por procuração". Com muitas dificuldades encontrei algumas características que se ajustam ao perfil da minha personalidade e muitas mais dificuldades tive ao tentar aproximar essas características aos traços visíveis dos meus colegas. Parecendo acautelar-se, Huberman (in Nóvoa, 1992, p. 54), acentua que não existem carreiras lineares, pois, "(...) há [seres humanos] que se parecem inteiramente com outros [seres humanos], [seres humanos] que apenas se parecem em alguns aspectos, e [seres humanos] que não se parecem, em nada, com mais ninguém. Onde é que aquelas interacções, aquelas zonas de intersecção se encontram? Como é possível identificá-las em termos fiáveis?". Poder-se-á dizer que "(...) cada descrição é sempre relativa ao momento e às condições específicas em que tiveram lugar" (idem, p. 57). A ambiguidade destas fases também pode ser acentuada com o que diz Riegel (1978, cit. Huberman, in idem, p. 55): "O desenvolvimento adulto é um processo dialéctico no qual o indivíduo se encontra sempre em estado de tensão entre duas forças: "internas" (maturacionistas, psicológicas) e "externas" (culturais, sociais, físicas)".
Assim, os estudos baseados em comportamentos humanos rapidamente perdem validade se não forem situados no tempo e no local onde foram efectuados, uma vez que também os paradigmas educacionais e os socioculturais estão em constante evolução introduzindo várias influências. Nesta lógica, parece-me que as fases são condicionadas pelos contextos e pela vivência particular de cada professor em todas as suas facetas incluindo o seu percurso profissional. Os traços de personalidade, muitas vezes apontados como sendo a causa de determinados comportamentos humanos, poderão ser criados/alterados por um determinado contexto escolar específico. Ou seja, o professor que tenha tido um papel activo na coordenação, muitas vezes por um simples acaso ou oportunidade, durante uma primeira fase terá, forçosamente, uma postura posterior completamente diferente daquele que não teve essa experiência, deitando por terra qualquer tentativa de rotulagem e/ou balizamento.

Referências bibliográficas:

  • NÓVOA, António (org.) ? Vida de Professores. Porto: Porto Editora, 1992
  • VIEIRA, Ricardo ? Histórias de Vida e Identidades. Professores e Interculturalidades. Porto: Ed. Afrontamento, 1999

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 169
Ano 16, Julho 2007

Autoria:

Luís Filipe Firmino Ricardo
Professor do Ensino Secundário, Marinha Grande
Luís Filipe Firmino Ricardo
Professor do Ensino Secundário, Marinha Grande

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