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Amigos e companheiros
Dois conceitos de difícil definição. Dois conceitos relacionados com os sentimentos, com a interacção social. Conceitos diferentes para adultos e crianças, para classe social, para o tempo que passa e se escorre entre a cronologia da História e os hábitos definidos ao longo do tempo.
Normalmente, o conceito de amigo, é ser solidário com problemas, alegrias, amarguras, amores e desencantos das pessoas com quem convivemos em momentos e alturas diferentes. Por outras palavras, eu diria que é estar ao dispor de seres humanos que amamos e dos quais dependemos nas ideias, no trabalho e, especialmente, na educação das crianças que, por causa da nossa amizade de adultos, passam a ser não apenas pequenos que entendem em conjunto a interacção social, a dependência dos adultos e a disciplina que estes lhes incutem. Este comportamento separa já os dois conceitos que refiro: amigos e companheiros. A subordinação às formas de ser, agir, ouvir e aceitar, faz das crianças amigas e companheiras. O adulto, com maior experiência de interacção na vida social e na cronologia histórica acumulada no tempo, torna possível separar as duas palavras: amigo, dependente; companheiro, fidelidade sem condições. Acrescentaria ainda que, como conceito, amigo define uma hierarquia que depende do lugar social que a pessoa ocupa ou do lugar que alcançou na vida. Além desta ideia, tenho a ousadia de dizer que, perdida a hierarquia, a pessoa que se diz amiga acaba por não ter ninguém que o acompanhe: "Difícil querer definir amigo.
Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que você precisa, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta.
Amigo é mais que ombro amigo, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas. É quem tentou e fez, e não tem o egoísmo de não querer compartilhar o que aprendeu. É aquele que cede e não espera retorno, porque sabe que o acto de compartilhar um instante qualquer contigo já o alimenta, satisfaz. É quem já sentiu ou um dia vai sentir o mesmo que você. É a compreensão para o seu cansaço e a insatisfação para a sua reticência.

É aquele que entende seu desejo de voar, de sumir devagar, a angústia pela compreensão dos acontecimentos, a sede pelo "porvir". É ao mesmo tempo espelho que te reflecte, e óleo derramado sobre suas águas agitadas. É quem fica enfurecido por enxergar seu erro, querer tanto o seu bem e saber que a perfeição é utopia. É o sol que seca suas lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais seu sorriso. Retirado de: (http://www.conselhonet.com.br/Mensagens/amigo_um_ensaio.htm)
Este comentário, define essa interacção individual, hierarquizada na interacção amigável. Queria, ainda, recordar ao leitor, as minhas lembranças das relações de Durkheim, Lenine, Marcel Mauss e a orientação que o saber de Marx soube entregar, enquanto todos estavam ainda vivos e em interacção, "espelho que te reflecte, e óleo derramado sobre a água agitada", esses tempos partilhados enquanto as relações sociais mudavam na Europa.
As crianças aprendem as relações de amizade sem comentários, esses que eu ofereço ao leitor em jeito de companheira (ou nota de nota de roda pé). Companheira, enquanto queria definir companheiro ou a pessoa que substitui o amigo que partiu e desenvolve o seu legado, como Durkheim fez de Marx e Mauss de Durkheim e Lenine. Companheiro é quem desenvolve a amizade "companheiro é mais que ombro amigo, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas. É quem tentou e fez, e não tem o egoísmo de não querer compartilhar o que aprendeu."
Queria acabar apenas com uma ideia: perdido o poder, o companheirismo suporta a amizade que parece ter fugido quando mais dela se necessita.
É imperativo perguntar, afinal, onde estão os amigos?

  
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Edição:

N.º 166
Ano 16, Abril 2007

Autoria:

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa

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