Não há dúvidas de que a Inclusão é um processo difícil e que implica mudanças radicais, quer na forma de pensar a Educação como um todo, quer nas práticas efectivas de sala de aula ou de um contexto mais circunscrito. Não é fácil operacionalizar as mudanças estruturais exigidas para tornar a escola o menos excludente possível, livre de barreiras que impeçam ou dificultem o acesso do aluno ao currículo e ao sucesso. Esta perspectiva de mudança radical, para muitos de nós, gera um encantamento inebriante numa fase inicial, mas logo somos jogados para uma fase inevitável de ?desilusão?. Um período saudável porque é crítico e realista. Faz-nos denunciar ostensivamente as barreiras. Faz-nos ver que, como diz Perrenoud, das intenções à acção existe um abismo enorme e que muitas das práticas que se afirmam ?inclusivas? são, de facto, formas muito bem disfarçadas de exclusão. Estas importantes denúncias são imprescindíveis para vermos a escola tal como ela é. Teses e mais teses descrevem, mostram, provam e comprovam que, em termos de inclusão, o que se diz e o que se sabe está ainda distante daquilo que realmente se faz. O problema é quando o provisório se transforma em permanente. Daí, a denúncia pode se converter em ladainha; a crítica, antes construtiva, normalmente perde a força e é rebaixada ao estatuto de reclamação infundada, própria de quem, no final das contas, só ajuda a manter as coisas como estão. O pior é que, quando rodeado de tanto discurso de que tudo vai mal na Educação, o professor acaba por não conseguir enxergar as coisas boas que ele próprio faz, os projectos interessantes que desenvolve, as boas e criativas saídas que encontra para os problemas que precisa resolver diariamente. É comum encontrarmos professores que, por só prestarem atenção às denúncias, transformaram-se em poços (sem fundo) de negatividade. Reclamam porque têm muitos alunos, reclamam porque têm poucos. Reclamam porque a escola não os valoriza pelo trabalho extra-classe, reclamam porque a escola os quer valorizar pelo trabalho extra-classe? A questão é que tudo isto funciona como uma crosta de sujidade que fica colada no espelho do professor. Ao olhar para si próprio, tem a imagem tão distorcida que não consegue perceber que aquela não é a verdadeira figura que deveria estar ali reflectida. Talvez valesse a pena separar o joio do trigo. Que há inúmeros percalços e que para seguir a carreira docente é preciso de muito esforço e determinação desdobrada, não há dúvidas. Mas também não há dúvidas de que nem tudo vai assim tão mal. Há (têm que haver!) boas práticas sendo desenvolvidas em toda a parte, por muitas escolas como um todo e por muitos professores em particular. Separar joio de trigo: uma boa opção de ?limpa-vidros? para o espelho de muitos (e bons) professores.
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