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Sobre o nuclear

Apareceu  um empresário, o senhor Patrick Monteiro de Barros, a propor a produção em Portugal de energia a partir do nuclear. Sobre este assunto há duas questões distintas que convém não misturar. A primeira, em que devemos raciocinar como europeus, é a de saber se a Humanidade , e em particular a Europa, podem dispensar a produção de energia eléctrica a partir da energia nuclear. A resposta é claramente NÃO. O aperfeiçoamento das normas de segurança, da legislação e a investigação sobre estas matérias devem continuar e nelas devemos participar como europeus. (Há que registar que Portugal, que não deu nenhum contributo significativo para o desenvolvimento das centrais nucleares de fissão do urânio, está agora integrado em estudos internacionais que têm em vista a construção de centrais de fusão de hidrogénio ? Projecto do Reactor Internacional Experimental que vai ser construído em Cadarache, em França, e em que participa uma equipe do IST liderada pelo Professor Varandas. )
Uma outra questão totalmente diferente, em que temos de raciocinar como portugueses, é a de saber se se devem construir nas próximas décadas centrais nucleares de urânio em Portugal.. O empresário Patrick de Barros propõem-se construir algumas sem encargos para o Estado, assegurando ele o financiamento e bastando-lhe, apenas, contratos que lhe assegurem a longo prazo a compra da energia eléctrica produzida. Há uma questão inicial a esclarecer.  A venda internacional da energia eléctrica agora é livre. O senhor Patrick de Barros consegue produzir em Portugal energia eléctrica a partir do nuclear a custos mais baixos do que a  produzida em Espanha, que já tem a indústria montada e tem uma dimensão que nós não temos? Parece-me muito difícil. Caso não consiga, é mais rentável para nós vender o nosso urânio aos espanhóis, ou aos franceses, e receber em troca electricidade. Se o senhor Patrick de Barros está convencido do contrário, pode tentar interessar o governo espanhol num negócio semelhante ao que propõe ao nosso. Se os espanhóis aceitarem e lhe deixarem construir uma central, por exemplo, na Andaluzia, até pode exportar electricidade para Portugal.


  
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Edição:

N.º 154
Ano 15, Março 2006

Autoria:

António Brotas
Professor Jubilado do Instituto Superior Técnico
António Brotas
Professor Jubilado do Instituto Superior Técnico

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