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Pai da cibernética critica projecto dos EUA de criar um soldado robô

O governo dos Estados Unidos propõe-se criar até 2015 um soldado robô com maior poder destrutivo e por um custo de apenas 10 por cento do de um soldado humano. [a tarefa é facilitada porque, segundo Joseph Weizenbaum] "O governo de Washington não utiliza apenas a sua capacidade, como também se aproveita da vaidade dos cientistas que se vêem seduzidos pelo projecto e incham o ego quando se sentem próximos do poder".

O cientista e pacifista americano de origem alemã Joseph Weizenbaum, pai da cibernética, criticou em meados de Setembro em Berlim o multimilionário projecto dos Estados Unidos para criar um soldado-robô antes de 2015.
Weizenbaum, professor emérito do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e fundador em 1965 de seu célebre laboratório de Ciências da Computação, disse que o governo de Washington está a investir milhares de dólares no projecto e monopolizando a capacidade científica deste instituto, com sede em Cambridge no nordeste dos EUA.
"Não sei a quantidade exacta de dinheiro, mas considero que entre 60 e 70 por cento do orçamento do MIT está a ser canalizado para os sectores armamentistas e militares dos Estados Unidos", afirmou Weizenbaum numa palestra no Instituto Max Planck de História das Ciências..
"O governo de Washington não utiliza apenas a sua capacidade, como também se aproveita da vaidade dos nossos cientistas que se vêem seduzidos pelo projecto e incham o ego quando se sentem próximos do poder", criticou Weizenbaum na conferência intitulada "Cientistas entre a guerra e a responsabilidade", organizada para assinalar o 60.º aniversário dos bombardeamentos atómicos americanos em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945.
O governo dos Estados Unidos propõe-se criar até 2015 um soldado robô com maior poder destrutivo e a um custo de apenas 10 por cento do de um soldado humano.
"Muitas vezes os meus alunos perguntam-me sobre o que fazer nestas situações, e eu digo-lhes que reflictam profundamente sobre os objectivos daquilo que estão a  estudar e a experimentar. Antes de apertar o botão para pôr em marcha um projecto devem meditar sobre os resultados que pretendem alcançar", disse Weizenbaum.
"No entanto, o projecto belicista de Washington é tão fascinante para os cientistas - aquele que Robert Oppenheimer (projecto atómico Manhattan de 1945) chamava 'ciência doce? ("sweet science") - e o salário é tão satisfatório, que poucos resistem à tentação", lamentou Weizenbaum.
Joseph Weizenbaum nasceu em Berlim no ano de 1923, e em 1936 teve que emigrar com a sua família, de origem judaica, para os Estados Unidos fugindo do regime nazi de Adolfo Hitler.
Nos Estados Unidos, já como estudante, Weizenbaum teve a oportunidade de assistir a uma palestra do cientista Albert Einstein, que também havia fugido da Alemanha no final de 1932.
"Desde então, e desde que Einstein assinou a declaração contra o armamentismo junto com o matemático e filósofo Bertrand Russell, em 1955, converti-me num cientista dissidente, e é o que continuo a ser", afirmou o pacifista americano.


  
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Edição:

N.º 149
Ano 14, Outubro 2005

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
Redacção

AFP
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