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PS ? Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma

CARTA ABERTA AO GOVERNO DO PARTIDO SOCIALISTA

É precisamente no dia em que estou em greve, por resposta às propostas e imposições do Governo, que desisto da militância no Partido Socialista e entrego com enorme mágoa e profunda revolta o meu cartão de militante.
Não posso crer que seja este o P.S. com quem me identifiquei desde que li o seu primeiro programa, apenas alguns dias após o 25 de Abril de 1974,  pelo qual já inscrevi o nome como candidato, pelo qual me movi apaixonadamente em discursos, discussões e sessões de esclarecimento, apesar de só ser militante há pouco mais de seis anos.
O discurso do Governo radicalizou-se e é pior que o discurso da "tanga" de Durão Barroso. Já não há lugar para o diálogo e a imposição antipática da nossa ministra da Educação faz-me sentir saudades de Roberto Carneiro e dos governos de Cavaco Silva.
Para onde foram os direitos adquiridos, nas lutas que encetámos, com as bandeiras do P.S. como vanguarda?
Para este Governo a Função Pública é que tem de pagar a crise e os professores deixaram de fazer parte da "paixão pela educação" apregoada ainda há tão pouco tempo.
Porque é que os ministros e deputados não dão o exemplo? Porque é que não se começa a poupar nas indemnizações e reformas dos políticos? Em tantos gastos supérfluos dos Ministérios, das Secretarias de Estado, dos Gabinetes, das Direcções Gerais, da Assembleia da República? Porque não se reduzem as competências das Câmaras Municipais na aquisição ao crédito e endividamentos astronómicos, e são um sorvedouro de dinheiros públicos e dos impostos autárquicos, "queimando dinheiro a esmo, em tantas "obras" e realizações de interesse diminuto e muitas vezes inútil. E não falemos de favorecimentos, corrupção, sigilo bancário,?
Porque continuam os governos fingindo que não vêem, porque a verdade é que não querem ver?
Diz-se na minha aldeia da Beira Alta, que quando o mal vem, deve ser repartido pelas aldeias. Será que não se poderia repartir desde o princípio pelos que mais têm?
Há apenas uma medida que se quis aplicar a alguns deputados e logo estes se torcem e retorcem para que nada os belisque nos seus direitos. Onde está a moralidade dos nossos políticos? Tenham vergonha!...
Será que a grave situação financeira não se deve, em grande parte, às decisões erradas dos nossos governantes? Então porque não lhes fazemos nós "pagar" a eles a crise abstendo-nos de votar?
Depois do congelamento de salários, da progressão na carreira, do aumento da idade da reforma, será que vai haver alguém com vontade de dar um passo sequer em direcção a uma mesa de voto?
A democracia não sobrevive com governos "ditadores", sobretudo quando estes não promovem a justiça social, a equidade e a paz. Pior do que isso, já não há nenhum sapateiro de Trancoso que faça acreditar o povo em manhãs de nevoeiro.
É esta a esperança que temos naqueles a quem demos a vitória nas últimas eleições. É assim que vemos as promessas que nos fez o Partido Socialista, numa mão a rosa desbotada e sem cheiro, outra sem um punho enérgico e lutador, antes uma mão aberta desfalecida e moribunda. Uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 147
Ano 14, Julho 2005

Autoria:

António José Paixão Lopes
Professor, Penafiel. Leitor de a Página
António José Paixão Lopes
Professor, Penafiel. Leitor de a Página

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