Neste último livro, Arsénio Mota reúne várias crónicas que incidem sobre a literatura em diferentes quadrantes de abordagem, muitas vezes com uma certa ironia. Mas o que se deve salientar em Letras Sob Protesto é o carácter informativo e crítico como trata questões que são de hoje e de ontem, porque o nosso mundo literário, pleno de equívocos e de situações que se repetem no correr dos anos, não acorda para novas perspectivas culturais que nos façam abandonar o marasmo em que sempre temos vivido. Assim, ao colocar o dedo em muitas feridas (situação do mercado editorial, preço dos livros, os que andam na crista da onda muitas vezes sem tal se justificar, a literatura para crianças, a indústria cultural, mesmo as razões de escrever e de publicar, as questões da crítica, etc.), Arsénio Mota faz isso com verdadeiro conhecimento de causa, mas no propósito de quem, não querendo endireitar o que está mal, ainda acredita que tudo se pode remediar. E não é assim. Os equívocos culturais neste País são atávicos e sabemos que importa bem pouco que o excelentíssimo biógrafo e dramaturgo Freitas do Amaral ou a romancista dona Margarida Rebelo Pinto tenham grande sucesso de vendas com livros de quarta categoria, mas que servem para ter casa com piscina e cavalos, mesmo que se não saiba nadar ou andar a cavalo... Basta olhar atrás, e não recuar muito, para se entender como há autores que tiveram êxito, foram da admiração pública e hoje quase pedem licença para existir: lembremos os ?casos?, entre muitos mais, de Abel Botelho, Guerra Junqueiro, Albino Forjaz de Sampaio, Manuel Ribeiro e até um Ferreira de Castro. A literatura e a sua verdadeira função, isso é sabido, e sabe-o muito bem Arsénio Mota, está para lá da ?escrita? fácil e consumível por parte de clientelas que fazem aumentar a nossa literacia. Assim, Letras Sob Protesto tem a qualidade de lembrar todos estes problemas, não para os resolver, mas para chamar para eles a atenção dos leitores mais atentos.
Arsénio Mota LETRAS SOB PROTESTO Ed. Campo das Letras / Porto, 2003
P. S. - Olhe, meu caro Arsénio Mota, faça o que pede o Pires Laranjeira no posfácio ao seu livro: ?Continua sempre a escrever, pá!? E deixe que tudo ande como anda nesta nossa pobre, triste e queixosa república das letras. Sim, a caravana passa depressa e nem conta muito ser Nobel ou ter tiragens de cem mil exemplares num país como o nosso. O que sobretudo conta são as ?coroas? suecas que permitem comprar ?uma casa na praia?. Na história do Prémio Nobel, sabe tão bem como eu, ao fim de cem anos muitíssimos poucos (e até se podem contar pelos dedos) são hoje os autores consagrados que ainda se lêem, admiram ou estudam sem um sorriso ao canto da boca. A história literária, a nossa, tem muito pouco por onde se lhe pegue. Mas tudo isso são ?histórias? que davam outros quinhentos.... Um abraço do
Serafim Ferreira
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