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A (re)construção de práticas e outros desafios

ESTUDO ACOMPANHADO

A área curricular não disciplinar de Estudo Acompanhado (E.A.), visando o desenvolvimento de competências nos alunos que lhes permitam construir aprendizagens de forma autónoma e significativa através do ?aprender a aprender?, pressupõe uma nova relação com o saber e um novo paradigma de escola, de currículo, de aluno e de professor.

Tratando-se, o Estudo Acompanhado, duma área curricular não disciplinar que visa criar, na escola e pela escola, «oportunidades de aprendizagem de métodos de estudo e de trabalho», essenciais ao sucesso das aprendizagens dos alunos, pressupõe uma abordagem trans e interdisciplinar, o que apela ao trabalho colaborativo, assente numa metodologia de trabalho projecto, envolvendo professores, alunos e encarregados de educação.
Assumir a concretização do E.A. num quadro teórico de participação alargada e democrática entre todos os intervenientes no processo educativo, em particular entre os professores e os alunos, suscita algumas questões que importa equacionar. Se por um lado pressupõe uma (re)definição do papel do aluno e do papel do professor, por outro pressupõe uma reorganização estratégica da escola e consequente alteração de funcionamento, nomeadamente no que diz respeito à distribuição de serviço, elaboração de horários, gestão de espaços e de tempos, redefinição de papéis e redistribuição de poderes, sobretudo ao nível das estruturas de gestão intermédia (conselhos de turma, departamentos curriculares, conselho de directores de turma, entre outros). Esta (re)organização estratégica implica também novos jogos de poder inerentes ao processo de tomada de decisões sobre o que deve ser e como deve ser implementado o E.A., podendo surgir situações de conflito decorrentes da existência de diferentes interesses em jogo, diferentes relações de poder, diferentes representações sobre a mesma realidade. O que se pretende dizer é que sobre a mesma ?coisa? há olhares diferentes que podem inclusivamente levar a caminhos diferentes, pelo que questionamos: poderá o E.A. proporcionar aprendizagens efectivamente significativas aos alunos? Como criar condições na escola para que se desenvolva uma cultura colaborativa entre professores e alunos, mas sobretudo entre professores? Não nos podemos esquecer que sempre trabalhámos isolados, cada um na sua ?especificidade? científica. Fazer do E.A. um espaço inter e transdisciplinar, pressupõe que cada um possa entrar no mundo do outro (o aluno, o professor), o que implica que à partida cada um esteja disponível para deixar que os outros também entrem no seu mundo. Este ?transpor de barreiras? para entrarmos no mundo do outro e para deixarmos que este entre no nosso mundo depende da nossa capacidade para auto e hetero-reflectirmos, bem como da nossa disponibilidade para com os outros aprendermos. Se nos disponibilizarmos para aprender com o outro que é diferente, em particular com os nossos colegas e com os nossos alunos, estaremos a caminhar no sentido de tornarmos as nossas escolas ?mais inteligentes?. Tudo depende, entre outros factores, da nossa capacidade para (re)criarmos práticas, (des)construirmos conceitos e, sobretudo, sermos capazes de trabalhar em equipa.
Numa  visão  metafórica,  diríamos que o Estudo Acompanhado é um arco-íris onde cada aluno vai aprender a descobrir as singularidades e as potencialidades de cada cor de modo a poder criar, de forma autónoma e criativa, verdadeiras obras de arte. Será que os professores querem entrar neste arco-íris? Estando eles habituados ao preto e branco, como estão a reagir a tanto colorido? Mas será que os professores antes de serem docentes de Estudo Acompanhado só utilizavam o preto e branco ou já havia pigmentos coloridos nas suas práticas pedagógicas, independentemente das cores recomendadas?


  
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Edição:

N.º 124
Ano 12, Junho 2003

Autoria:

Adélia Lopes
Escola Superior de Educação de Leiria
Adélia Lopes
Escola Superior de Educação de Leiria

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