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Eternamente jovem

Tem o entusiasmado jovial de quem ama a profissão. De quem talvez nunca se sentisse realizada a fazer outra coisa que não ensinar. Um dia alguém lhe disse que ser professor era ?ser sempre jovem?. Ela acredita piamente que sim: ?Estou sempre a par da música, dos gostos e da gíria dos mais novos. Por isso acho que vou envelhecer sem perder a noção do que é a juventude, isso não é um privilégio?? A questão fica no ar. Mas o sorriso assertivo de Cláudia Monteiro, professora de Português e Inglês no Grande Colégio Universal do Porto, não deixa dúvidas quanto à resposta.
A vontade de ser professora surgiu da admiração que sentia por quem a ensinava. Razão pela qual acredita que o professor deve ?ser um modelo de conduta? para os alunos. É isso que tenta ser. Porque entende que a sua função vai muito além do ensino das línguas: ?A matéria que ensino nas aulas os alunos podem lê-la nos livros, aquilo que eu sou, o modo como estou e os valores que defendo só os podem ?ler? em mim?. 
Aos 25 anos, Cláudia considera-se uma pessoa de ?sorte? por ter começado a dar aulas no colégio logo após a profissionalização, há dois anos. Como qualquer outro professor, aspira a mais estabilidade profissional: ?O ideal seria a efectivação?, observa. ?Mas estou a fazer o que gosto e ainda sou remunerada?, esclarece dizendo que isso já a faz sentir uma ?privilegiada?.
Sobretudo quando pensa na instabilidade e no desemprego típicos da classe docente. ?Ver os colegas de curso a trabalhar em lojas de telecomunicações é das coisas mais revoltantes que pode existir?, lamenta Cláudia. Na sua opinião a situação deriva de um ?contra-senso? existente no sistema de colocações no ensino público. E que tem a ver com a concorrência entre professores formados em universidades privadas e públicas. Por isso a professora aponta o dedo ao Ministério da Educação.
?Partindo do princípio que os professores que se formam nas universidades privadas não tiveram média para entrar nas públicas, como é que no final dos seus cursos eles conseguem ter médias altíssimas e ser colocados no ensino público?? A questão não é nova. Mas, assegura Cláudia, está a criar ?atritos? entre professores. E a aumentar o clima de competitividade.
Apesar de não ter encontrado grandes diferenças entre o que julgava ser ensinar e a prática do ensino, Cláudia ficou desiludida com um dos aspectos da profissão. ?Achei que os professores trabalhavam mais em conjunto, porque foi essa a experiência que tive a quando o meu estágio.? Outra das coisas que a incomoda é perceber que ?ainda há muita gente a pensar que ser professor é ter três meses de férias?. A professora contesta: ?Passo metade dos meus fins-de-semana a trabalhar.?
A vida familiar de Cláudia fica ainda mais condicionada pelo facto de o marido ser também professor. Os ?TPC?s? de ambos obrigam a uma ?gestão cuidada?. O tempo de corrigir testes e preparar aulas tem de ser sincronizado. ?Temos de ter dois computadores?, explica sem dramatismos. ?Mas somos um casal com sorte: gostamos de ensinar e isso realiza-nos. E para mim não há nada mais gratificante do que ouvir um aluno dizer aos pais: Esta é a minha professora!?


  
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Edição:

N.º 122
Ano 12, Abril 2003

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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