Dois milhões de crianças estão sem ensino primário e vinte
milhões não frequentam o equivalente ao 2º ciclo do Ensino Básico na América
Latina, segundo um recente relatório publicado pela Unesco. Apesar de assinalar
o aumento da taxa de escolarização primária na região (a rondar actualmente
os 80%), e dos progressos levados a cabo por diversos países (Argentina, Bolívia,
Brasil, Cuba, Equador, México e Peru conseguiram universalizar o ensino primário
e Costa Rica, Uruguai e Venezuela estão muito perto deste objectivo), a Unesco
ressalva a clivagem entre as zonas rurais, onde duas em cada cinco crianças
não terminam a escola primária ou concluem-na com pelo menos dois anos de atraso
em relação ao previsto, e as zonas urbanas, onde essa proporção diminui para
uma criança em cada seis. No que toca ao ensino secundário, a taxa de escolarização
também aumentou, mas não ultrapassa a fasquia dos 54%, o que permite estimar
que 20 milhões de jovens não se encontram escolarizados.
Segundo a Unesco, estes "progressos" não devem, porém, ocultar os "problemas"
que interferem na qualidade do ensino na região - que se reflectem nomeadamente
nos altos índices de abandono e de reprovação e na desproporção das taxas de
abandono escolar em zonas rurais e urbanas -, cuja causa pode ser encontrada
nas desigualdades económicas que se verificam no interior de cada país, e que
traduzem necessariamente uma desigualdade em matéria de ensino. Esta situação,
na qual as oportunidades das crianças dependem directamente da posição sócio-económica
ocupada pelos pais, não podem desembocar noutra coisas senão na "pobreza hereditária",
destaca a organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.
No que diz respeito ao ensino superior, que a Unesco considera "um dos grandes
desafios da educação na América Latina", a participação é bem menos considerável,
com uma taxa regional que não atinge ainda os 20%, e onde as diferenças entre
países são consideráveis (47% na Argentina e 12% na Nicarágua, por exemplo).
Esta baixa participação pode ser explicada por diversos factores: necessidade
de muitos jovens ingressarem no mercado de trabalho uma vez concluída o ensino
secundário, o alto custo do ensino superior por aluno para os governos e o facto
de em muitos destes países o ensino superior ser, na maioria, privado e, portanto,
estar fora do alcance da maior parte parte dos cidadãos.
A organização lamenta ainda que muitas populações indígenas tenham ficado "excluídas
do sistema educacional até meados do século XX", lembrando, porém, a importância
da Declaração intergovernamental de Cochabamba, assinada no ano passado, onde
se reconhece "a necessidade de o ensino ser difundido tanto nas línguas indígenas
como nas oficiais".
Este relatório sobre a América Latina, elaborado pelo Instituto de Estatísticas
da Unesco e publicado no mês passado em Paris, é o primeiro de uma série que
analisa a situação da educação no mundo por regiões, e inclui dados de 19 países
da América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile,
Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai,
Perú, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, com gráficos estatísticos para
cada um deles, podendo ser consultado no 'site' da organização em www.unesco.org
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