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Os Processos

"A Pandilha", de Cândido Ferreira, pelo T.E.P., faz "o processo " do 25 de Abril e talvez o "processo" de todas as revoluções.

É um texto interessante, embora tenha um final com um certo sabor nihilista: alguém que recusa vender-se e acaba com a vida Isto é, o que a peça nos diz é que não há solução. Talvez; mas na História a falta de solução é sempre momentãnea, mesmo que o momento histórico consubstancie uma década. De qualquer modo, para quem frequente as salas de teatro é bom visionar uma problemática que diz respeito à vida e ao quotidiano de todos nós. A encenação é do próprio autor e os actores escolhidos são bastante convincentes.

A Seiva Trupe pôs em cena uma peça sobre Pessoa, com encenação de Júlio Cardoso. O papel principal foi atribuído a António Reis, cujo desempenho é realmente notável.

Se aqui se fazem estas curtas observações sobre duas peças de teatro, não é no sentido de se inaugurar uma nova secção de crítica teatral ou de enunciar proposições estéticas.

A Página retoma neste número uma rubrica de Teatro. E aqui sim. Talvez formulemos critérios estéticos, opções, noções ideias. Por exemplo: a vida hoje é uma farsa. Um véu de mistificação recobre a sociedade por inteiro. O discurso transformou-se num discurso sobre o discurso. A criação deu lugar ao mimetismo. Há mesmo alguns, como os das televisões que descobriram o esquema e exploram-no minuciosamente, à ganância. A trivialidade, com a intervenção preciosa da televisão instalou-se no quotidiano.

O que aqui se propõe, e já não é uma proposta inédita, é um retorno da dialéctica. Que ao plano da luta social e política se junte uma "praxis" estética que valorize o que há de mais profundo na actividade do ser humano: a produção do homem por si próprio. Não será o teatro um "locus" privilegiado da actividade estética? Bem como a música e a literatura?

Haverá aqui uma visão romântica da sociedade. Talvez, mas recuperando do romantismo o que ele teve de melhor: a recusa da trivialidade e da exploração do quotidiano.

Guilhermino Monteiro


  
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Autoria:

Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia
Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia

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