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Territórios palestinianos ocupados - Diário de uma educação adiada

(AFP)

São quatro horas. Para dezenas de milhar de pequenos palestinianos da Faixa de Gaza esta é a hora de saída da escola, antecipada cerca de uma hora por causa da intifada. A revolta palestiniana mudou completamente os hábitos das 420 escolas primárias (sejam elas públicas, privadas ou geridas pelas Nações Unidas) deste território autónomo, que acolhem cerca de 350 mil alunos. Muitas fecharam as suas portas devido a destruições parciais causadas pelo exército israelita. Muitos estabelecimentos de ensino viram-se assim obrigados a acolher um número de alunos suplementar, alterando os seus horários. Cada aula dura agora 35 minutos, em vez dos habituais 45, e todas as disciplinas consideradas não prioritárias - como o desporto, o desenho ou a música - foram suprimidas.
"Não podemos deixar as crianças irem para casa sozinhas à noite, já que as estradas são perigosas e por vezes interditas à circulação", explica uma fonte do ministério da educação palestiniano. De acordo com números adiantados por este ministério e pelas Nações Unidas, mais de 1800 alunos ficaram feridos e 48 foram mortos depois do começo da Intifada, em 28 de Setembro. A mais nova tinha apenas nove anos. Situada próxima da zona de passagem de Karni, a escola Abd-al-Fatah recensou já nove mortes entre os seus alunos. De acordo com testemunhos das próprias crianças, os incidentes ocorrem sobretudo no caminho para a escola, durante o qual aproveitam frequentemente para lançar pedras ou participar numa marcha de protesto.
"Em seis semanas, foram desperdiçados 1800 dias de escola", lamenta Ahmad Moussa, responsável pelo pelouro da educação do UNRWA, em Gaza, a agência da ONU encarregue da ajuda aos refugiados palestinianos. Para os professores, a vida não é simples. "As crianças faltam frequentemente, estão "stressadas", excitadas e incapazes de se concentrar. Sempre que ouvem uma ambulância precipitam-se para a janela", explica Anwar Chahine, que ensina árabe numa escola aberta em 1995 pela ONU.
"A minha cabeça parece que vai rebentar. Tenho a impressão de estar sempre a falar para o ar", sublinha, por seu lado, Aziza Abou Hatab, professora de uma classe de 55 alunos. O estabelecimento de ensino onde lecciona acolhe diariamente os 942 alunos de uma escola próxima, situada na vizinhaça do colonato judeu de Gush Katif.
"Uma noite fomos bombardeados. O lançamento de gás lacrimogéneo é frequente e as crianças sentem-se impelidas a participar nos confrontos", explica a directora, Roueida al-Allal, visivelmente perturbada. Nesta escola, onde sete alunos foram feridos, entre os quais um que sofreu ferimentos na cabeça causados por uma bala de borracha, os professores não perdem estão numa azáfama, porque é necessário recuperar o tempo perdido antes dos exames do final de ano, razão pela qual a Autoridade Palestiniana decidiu adiá-los quinze dias e reduzir as férias de final de ano para metade. Para substituir a presença de professores, que frequentemente habitam longe das escolas, muitos encarregapos de educação tomaram os seus lugares, enquanto animadores sociais são chamados às escolas para ajudar as crianças a aceitar mais facilmente a presença de uma cadeira vazia, outrora ocupada por um colega ferido ou morto.

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@ 1999 Agence France-Presse

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Edição:

e
Ano 9, Dezembro 2000

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
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