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Ainda é possível erradicar a fome

(AFP)

Mais de 800 milhões de pessoas, ou seja, 13% da humanidade, "passa fome e sofre de doenças relacionadas com a desnutrição", segundo o relatório anual da Organização para a Alimentação e Agricultura da ONU (FAO), onde se destaca, porém, que há 30 anos esse número atingia um bilião de pessoas. O relatório afirma também que "os progressos realizados até agora demonstram que o objectivo de erradicar a fome é concretizável, ainda que seja preciso fazer enormes esforços para o atingir".

"As técnicas e os recursos necessários estão a nosso alcance", refere o director-geral da FAO, Jacques Diouf. "Se não conseguimos erradicar a fome, a única desculpa que podemos dar às próximas gerações é a da ignorância, do egoísmo, da falta de visão", advertiu este responsável.

Para os peritos da FAO, que fizeram uma análise das mudanças registadas nos últimos 50 anos no sector agrícola mundial, "a produção de alimentos é actualmente mais do que suficiente para alimentar de modo apropriado seis biliões de seres humanos".

Apesar de a desnutrição ter diminuído na Ásia e se ter transformado num fenómeno excepcional, a África continua a ser o continente mais afectado. Segundo a FAO, nos países em vias de desenvolvimento, e naqueles que se podem considerar em transição, cerca de 1,2 biliões de pessoas, ou seja, quase um quarto da população mundial, vive com menos de 1 dólar por dia - cerca de 230 escudos -, o que lhe permite apenas "sobreviver". O relatório denuncia também o efeito devastador das guerras, dos conflitos armados e das revoltas civis (entre 30 a 40 nos finais do século XX), que continuam a ser "as maiores causas da insegurança alimentar".

"Os conflitos internos afectam principalmente a população rural, mais do que os conflitos com outros países", segundo aquele relatório, destacando que a presença de minas e munições por detonar fazem com que seja "impossível" reconstruir as comunidades rurais após os conflitos. Entre 1970 e 1997, os conflitos provocaram na maioria dos países em desenvolvimento prejuízos de produção na ordem dos 121 biliões de dólares, uma média de 4,3 biliões de dólares por ano.

Se em 1984 o homem era responsável por 10% das crises alimentares, em 1990 essa cifra supera os 50%, destaca a FAO, a par de um elevado número de catástrofes naturais, que marcaram o desenvolvimento agrícola nos últimos 15 anos. A FAO calcula ainda que teriam de ser gastos 13 dólares por pessoa, anualmente, para oferecer os alimentos indispensáveis aos desnutridos.

"As perdas por conflitos nos países em desenvolvimento superaram as ajudas alimentares oferecidas a esses países nas décadas de 80 e 90", destaca ainda o relatório. Como exemplo, a organização calcula que entre 1980 a 1989 as perdas foram de 37 biliões de dólares, enquanto que as ajudas atingiram os 29 biliões.

Além dos conflitos armados, as más condições climáticas influenciaram o panorama alimentar e agrícola, a que se juntou a "crise monetária desencadeada em 1997 e a queda dos preços de importantes produtos de exportação dos países em vias de desenvolvimento".

Juntamente com o relatório anual, a FAO apresentou um estudo técnico sobre "o custo económico da fome" e a sua influência sobre o crescimento, baseado em dados de 110 países, recolhidos entre 1960-1990. O documento, elaborado por Jean-Louis Arcand, professor de economia da Universidade de Auvergne, em França, mostra em particular que "se a disponibilidade energética alimentar fosse de 2.770 kcal por pessoa ao dia, num grupo de países tomado como amostra e cujo nível era inferior a este valor, a taxa de crescimento anual do PIB teria aumentado 0.8%". As repercussões são importantes, já que as taxas de crescimento anual dos países estudados foi de cerca de cerca de 2% no prazo considerado.

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Edição:

N.º 95
Ano 9, Outubro 2000

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
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