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Ensino profissional agrícola - preparar o futuro

O Ensino Profissional Agrícola tem sofrido ao longo dos anos várias transformações, a última das quais terminou com a passagem dos Cursos Técnico Profissionais para o Ensino Profissional de nível III/U.E. Esta passagem repentina mexeu com todo o sistema de ensino instalado, principalmente, por 2 motivos: 1º Conceder às escolas então criadas uma autonomia administrativa, pedagógica e financeira, que nunca foi bem aceite por muito boa gente; 2º Pelo facto de estas escolas resultarem de iniciativas locais, o que permitiu adaptar o sistema de Ensino às necessidades das diversas regiões, e não o contrário.
O tempo, sempre bom conselheiro, veio demonstrar que ambas estavam correctas pois rapidamente estas escolas criaram raízes e se instalaram por todo o pais, mesmo nas regiões mais desfavorecidas. A sua expansão seria uma realidade caso o Ministério da Educação não limitasse todos os anos abertura de novas Escolas e limitasse o número de alunos.


Aspectos positivos do sistema

Sendo a agricultura uma actividade de risco, sempre dependente de vários factores, quer naturais, quer de mercado, o facto de atribuírem às escolas a autonomia de que já falei, permitiu-lhes gerir o currículo de acordo com as suas condições físicas, humanas e até certo ponto as naturais (como por ex.meteorológicas).
A adopção da Estrutura Modular que permite aos alunos progredir segundo o seu ritmo de aprendizagem também é um aspecto importante a considerar, embora a sua implementação necessitasse de um período de adaptação uma vez que não fazia parte do nosso sistema de ensino tradicional.
Na minha opinião a grande virtude deste tipo de ensino reside na Formação em Contexto de Trabalho, a qual deverá ser feita preferencialmente nas empresas do sector. Esta saída dos alunos da escola para executarem algumas tarefas nas empresas, integrados junto dos técnicos e trabalhadores das mesmas é de extrema importância para os jovens. Mostra-lhes a realidade laboral, a necessidade de cumprir horários e normas de segurança, o contacto com gente do Mundo de Trabalho e muito importante, o contacto com muita tecnologia que infelizmente as escolas não têm. Presto aqui um agradecimento às inúmeras empresas que tem colaborado com as escolas agrícolas, sem qualquer contrapartida. Não posso terminar este capítulo sem referir a Prova de Aptidão Profissional, que os alunos realizam durante o
3º Ano, onde podemos encontrar trabalhos muito válidos e com grande valor.
É de salientar que presentemente a grande maioria das Escolas Profissionais Agrícolas são públicas.

Aspectos menos positivos

Neste campo posso citar a autonomia que se tem vindo a perder lentamente, os constrangimentos financeiros que por vezes colocam em causa os Projectos Educativos e criam instabilidade na Comunidade Escolar. O equipamento destas escolas também é uma necessidade urgente. Não podemos ignorar a evolução tecnológica que é constante e em minha opinião, as escolas deviam ser as pioneiras, isto é, deveriam ser elas a testar esses novos equipamentos. Na maioria das vezes isso não acontece, sendo que os alunos quando chegam às empresas, se surpreendem com os equipamentos que encontram.
Concordo que o ensino agrícola (e profissional em geral) é um sistema de ensino dispendioso, mas de qualidade, que não deve ser colocado em causa quando se sabe que o futuro é cada vez mais competitivo e pertence aos jovens. "Investir na Educação é preparar o futuro".

Perspectivas para o futuro

Como diz o povo, "O Futuro a Deus pertence", e sendo uma pessoa optimista por natureza enquanto não me convencerem que podemos viver sem alimentos, eu acredito na agricultura. Neste momento atravessamos um período muito competitivo onde só os grandes empresários têm lugar e tiram proveitos. É aí que temos de colocar os nosso alunos, dando-lhes uma formação de qualidade e empresarial, o que exige muito empenho e
responsabilidade por parte dos professores. Por outro lado, a competição atingiu níveis tão elevados que começam novamente a surgir pequenos nichos de mercado à procura de produtos provenientes dos agricultores tradicionais ou biológicos. É uma porta que se abre e na qual eu acredito.
A qualidade de formação que estas escolas vêm ministrando reflecte-se no percurso que os ex-alunos têm seguido: desde a aquisição do bacharelato, a licenciatura, a colocação no mercado de trabalho e a criação de novas empresas do sector, poucos ou nenhuns estão desocupados.

Carlos Alberto da Silva Frutuosa
Presidente do Conselho Executivo
Escola Profissional Agrícola Conde S.Bento
Santo Tirso


  
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Edição:

N.º 94
Ano 9, Setembro 2000

Autoria:

Carlos Alberto da Silva Frutuosa

Carlos Alberto da Silva Frutuosa

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