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Provas de Aferição: PÁRA AQUI!

Nos dias 24 e 26 de Maio, em todas as escolas do 1º ciclo do país, às 10 h 00 minutos, cerca de 150 mil alunos foram submetidos a provas de aferição, "cuja finalidade principal é obter informação que permita melhorar as condições gerais e específicas de aprendizagem dos alunos e apoiar os professores no seu trabalho pedagógico" (In "Informação sobre as provas de aferição", editadas pelo GAVE - Gabinete de Avaliação Educacional).
Que a finalidade principal seja a de "obter informação que permita melhorar as condições gerais e específicas de aprendizagem dos alunos" é o que iremos ver, mas quanto à de "apoiar os professores no seu trabalho pedagógico" ninguém tem o direito de duvidar, tal a profusão de provas de apoio dadas aos professores aplicadores no "manual do aplicador" que acompanhou com larga antecedência as ditas provas de aferição.
Veja o leitor (no caso de não ter sido um dos aplicadores) estes mimos de apoio que o GAVE lhes destinou:
"A partir deste ponto do manual (do aplicador), as instruções são dirigidas directamente a cada Aplicador. Leia em voz alta:
Agora vou distribuir as provas. Deixem as provas com as capas
para baixo até que eu vos diga para as voltarem.

"(...) Não permita que os alunos voltem a prova, enquanto não lhes disser que o façam. Quando acabar de distribuir as provas por todos os alunos, leia:
Podem voltar as provas.
Preencham o cabeçalho da capa com os dados que vou dizer:
- No espaço destinado à idade, escrevam a vossa idade;
- Façam uma cruz em F ou M conforme o sexo: Feminino
ou Masculino;"

Os "apoios" aos professores aplicadores prosseguem em vários lances, com incitações do género "Reforce algumas das instruções, lendo em voz alta:". Seguem-se as instruções, destacando-se entre elas um enorme PARA AQUI !" (o negro é do original).
Perante estas demonstrações de "apoio" de que os professores aplicadores foram objecto, não será de perguntar se este "apoio" não é excessivo? Não se estará a confundir os professores com os meninos e meninas a quem se destinam as provas de aferição?
Os professores aplicadores deixam, de repente, de ser professores, incapazes de voz própria, só porque são aplicadores,?
Ah! conhecem-se bem as técnicas imperativas dos testes de aferição, os métodos laboratoriais que têm de ser respeitados, a asseptização das condições de aplicação, a robotização da palavra para a robotização da acção. Só assim é que se pode confiar nos resultados. Só assim é que os resultados são portadores de mandatos que a ninguém é legítimo contestar. A ciência no seu estado puro para acabar de vez com a política. PARA AQUI!
Quando chegarem os resultados, lá para o princípio do ano lectivo, será que todos os professores passam a ser aplicadores?

Manuel Matos
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação / Porto


  
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Edição:

N.º 92
Ano 9, Junho 2000

Autoria:

Manuel Matos
FPCE, Univ. do Porto
Manuel Matos
FPCE, Univ. do Porto

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