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Também há "Lusofonia" num Festival Jazz

Chorinhos e Samba no Matosinhos Jazz

Com direcção artística de António Ferro, "Matosinhos em jazz" , este ano sob o signo das vozes femininas, teve sonoridades lusófonas, com Maria João a abrir, sob o guião do "Chorinho Feliz", ao lado do brasileiro Toninho Ferragutti (acordeão) e do norueguês Helge Norbakken (percussão). Dois excelentes músicos que já tinham estado com a cantora e com Laginha no registo comemorativo dos 500 anos da descoberta do Brasil.
A prestação em Matosinhos teve como base o guião desse CD, entremeando originais da dupla João-Laginha com clássicos brasileiros. E, apesar de alguns ?puristas? presentes na plateia contestarem a abertura de um festival de jazz com música brasileira, o mínimo que pode dizer-se é que o resultado foi agradavelmente feliz ? sustentada numa prestação de clara contenção por parte de Ferragutti-Norbakken, a voz brilhou bem alto, oscilando entre a emoção pura e o desprendimento, a delicadeza de expressão e a interioridade sufocada, a potência e a doçura, o humor e a paixão.
Estava dado o mote, que a restante programação não faria mais do que confirmar. Claro que estiveram outras mulheres, e homens, no "Matosinhos em Jazz" ? Koko Taylor, Meliss Walker e Fontella Bass com David Murray, para além do português Zé Eduardo e do projecto Almália ?, mas Patricia Barber e Tania Maria terão assinado os restantes momentos mais significativos.
Com o trio de Patricia Barber a experiência terá ficado perto de ser sublime. Fechando os olhos, quase se poderia ouvir Keith Jarret ao piano; abrindo-os, um anjo de negro vestido sussurrava ao ouvido, dando sentido ao que a própria pianista diz: "As pessoas precisam de uma música que lhes toque a alma e não apenas a razão: ser impressionado por uma música não é o mesmo que deixarmo-nos comover por ela. Fixo os olhos do público que me escuta e demasiados entre eles têm o olhar vazio. É assustador. Eles precisam de arte. Precisam de música que os arrebate de uma forma que nem sabem que precisam de ser arrebatados".
Arrebatamento foi, também, a sensação que percorreu o auditório da Exponor na última noite do festival. Em palco, a brasileira Tania Maria e um excelente naipe de músicos. Imaginação criadora ? indizível a excelência do arranjo para o "Samba para uma nota só", do mestre Jobim ?, muito ritmo e uma tecitura vocal de largo espectro e forte capacidade interpretativa, fizeram da última noite uma grande festa. Como alguém dizia à saída, "se preciso fosse, este concerto é a prova-provada de que o jazz não é, necessariamente, uma música chata, só para intelectuais".

 


  
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Edição:

N.º 92
Ano 9, Junho 2000

Autoria:

Redacção

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