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Seitas Religiosas "Invadem" África

(AFP)

A proliferação de seitas religiosas em África, recentemente ilustrada pela tragédia que deixou 800 mortos no Uganda, deve-se sobretudo à miséria e à doença, enquanto os promotores dessas "igrejas" são motivados principalmente pelo dinheiro, estimam especialistas franceses. "Os promotores de milhares dessas "igrejas", adiantam a mesma fonte, "prometem aos seus membros, geralmente pobres, aliviar-lhes a existência em troca dos seus parcos recursos".
"Estão a chegar a África movimentos de origens americana e brasileira de tipo pentecostal, muito radicais, fundamentalistas e maniqueístas, que fazem leituras literais da Bíblia", disse à AFP Jean Pierre Dozon, diretor do Centro de Estudos Africanos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris.
Dozon assinala que os animadores destas seitas sustentam que o desemprego e a doença vêm do diabo e propõem exorcismos em troca de dinheiro às pessoas afectadas por carências em matéria de saúde e de educação, e que perderam os seus pontos de referência em famílias desintegradas. Aquele especialista afirma ainda que na África devastada pela sida (1,8 milhões das 2,5 milhões de mortes anuais ocorrem em África, segundo a OMS) estes movimentos, hostis ao preservativo, são um sério risco à propagação da doença.
Cita como exemplo a Igreja Universal do Reino de Deus, de origem brasileira, implantada principalmente na Costa do Marfim e na Nigéria, que tem a particularidade de comprar salas de cinema para transformá-las em salas de culto. No Quénia, o presidente Daniel Arap Moi nomeou uma comissão que investiga vários grupos evangélicos.
O impacto das "igrejas" é fraco face ao islamismo, embora algumas delas tentem converter muçulmanos, "não contribuindo para a paz civil em certos países", diz ainda Dozon.
O governo da República Democrática do Congo (RDC, ex-Zaire) prendeu no final do ano passado o chefe de uma das Igrejas do Despertar, Fernando Kutino, que, numa homilia transmitida pela sua própria cadeia de televisão, convocou os seus fiéis a queimarem o Corão, provocando conflitos entre os muçulmanos. O estado congolês suspendeu em 1999 o reconhecimento oficial deste tipo de igreja.
Para Comi Toulabor, pesquisador do Centro de Estudos da África Negra (Cean), de Bordéus, que estudou estas seitas no Togo e no Gana, "a enfermidade e o desemprego são as principais motivações dos aderentes a estes movimentos, mas não exclusivamente".
"No Gana, não são só os pobres que entram nas seitas, mas também médicos e advogados", disse, acrescentando que estas pessoas rompem com sua religião de origem porque o animismo e o catolicismo estão "desqualificados".
"O animismo, explica, já não corresponde à modernidade e o discurso da igreja católica parece antiquado, arcaico, a sua liturgia não é espetacular, não é uma liturgia quente, enquanto que nas seitas se canta e se dança, existe uma convivência, Deus não é uma máscara fria".

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@ 1999 Agence Françe-Presse

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Jornal a Página da Educação nº 90 - Abril de 2000, pg. 13


  
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Edição:

N.º 91
Ano 9, Maio 2000

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
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