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Heterodoxias e Ortodoxias

O bruxo Leante está cada vez mais ortodoxo. Agora diz-se devoto da Santa da Ladeira, a santinha Maria da Conceição, da Ladeira do Pinheiro, santa e abadessa reconhecida pela Igreja Ortodoxa, que há dias inaugurou, a escassos 30 quilómetros de Fátima, uma basílica com capacidade para cinco mil pessoas?
Para o bruxo, a Santa da Ladeira é também uma grande figura da Resistência. O "antigo regime", como o bruxo Leante gosta de referir, nunca teve grande fé em Maria da Conceição, apesar desta se dizer visita frequente do céu e portadora de segredos de guardar a sete chaves, tão perturbantes de intrigantes como o terceiro de Fátima.
"Profeta da vinda do Espírito Santo ao deserto", a guia espiritual da Confraria da Nossa Senhora das Graças, que congrega cerca de três centenas de mulheres, é a única santa que o bruxo Leante conhece, ainda em vida. No que respeita ao reconhecimento da santidade, a Igreja Ortodoxa é muito mais liberal do que a Católica, costuma dizer o bruxo, lembrando que Fátima ainda só vai na beatificação dos pastorinhos.
"Tudo, também, muito heterodoxo", lembra o bruxo. A santa que já fez florir uma roseira seca é casada, em segundas núpcias, e nem por isso deixa de ser santa. Para o bruxo Leante não há nisto qualquer contradição. "Há sempre algo de ortodoxo na heterodoxia e algo de heterodoxo na ortodoxia", costuma dizer.
"É tudo uma questão de fé, e só é possível questionar a fé ao nível dos cardeais", concluiu.

João Rita


  
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Edição:

N.º 88
Ano 8, Fevereiro 2000

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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